terça-feira, 15 de abril de 2008

Índios: morte anunciada

Texto reescrito, em virtude de uma matéria de uma amiga

Ainda ocorrem casos de suicídio na aldeia Jaguapirú em Dourados. Geralmente são índios jovens que tiram a própria vida através de enforcamento após terem se alcoolizado. Um fato intrigante é que dizem não saber exatamente o porquê dos índios fazerem isso. Aparentemente há causas diversas como desilusão amorosa, crises familiares, alcoolismo ou mesmo nenhum motivo aparente. Apenas um corpo dependurado numa árvore.

Nunca conversei com antropólogos ou psicólogos que interagem com os indígenas de lá, mas acho que os jornalistas que veiculam as notícias também não encontram respostas satisfatórias quando questionam tais profissionais.

Eu que não sou especialista no assunto, mas que cresci em Dourados, e quando criança entreguei muito pão velho para os índios pedintes e ficava com medo de eles roubarem meus gatos de estimação (sim, falava-se que eles faziam isso), vou tentar responder a questão.

Algumas vezes o óbvio passa despercebido, acho que esse é um caso. Em minha opinião, os suicídios são causados por uma depressão ante a falta de perspectiva de um futuro melhor, assim como pela vergonha do índio não ter uma colocação de respeito e dignidade nem na sociedade do branco, que subjugou sua cultura (o que para ele é claro), e nem na do próprio índio.

O modo de vida indígena com seu sistema de produção clássico se tornou obsoleto, já não atendendo mais a exigência de sobrevivência da tribo (se é que ainda pode ser assim chamada), inclusive nem mesmo os atuais indígenas elegeriam ou saberiam se utilizar da caça e pesca para sobrevivência. Tampouco a sociedade branca acolhe de maneira eficiente o indígena.

Em geral os índios arrendam suas terras, alguns procuram empregos de baixa qualificação e remuneração, grande parte fica na ociosidade e quase todos ficam dependentes da caridade alimentar do governo.

Há uma desagregação familiar e um desajuste social nas aldeias de Dourados, em grande parte pela falta de emprego e geração de renda que proporcione emancipação econômica das famílias.

O jovem indígena então vê seu futuro diante de dois cenários. Ou na tribo em condições precárias ou na sociedade branca que não traz oportunidades de ingresso e crescimento humano ou social. Não é difícil notar como se cria um ambiente de angústia e tristeza para esse indivíduo. Cria-se uma espécie de “banzo” indígena. A ingestão de álcool torna-se então o catalisador de um ato severo de desumanidade própria.

É interessante notar também, como alguns aspectos unem culturas distintas, mas que possuem uma ligação genética forte. É sabido que os índios das Américas são provenientes da região Oriental do planeta, que povoaram o continente pelo estreito de Bering. Pois bem, lembremos, portanto dos japoneses com seus famosos Haraquiris, ou seja, suicídio ante algo que para eles fosse desonroso ou vergonhoso. Guardadas as devidas proporções é o que acontece com os índios de Dourados. Penso que sentirem-se úteis e importantes seria o melhor remédio contra a baixo-estima dos suicidas indígenas.

O que me preocupa é que parece que a situação não é favorável para se ver revertida por ações dos especialistas e técnicos do assunto, mas talvez apenas por força da realidade ou das circunstâncias. A legislação é ao mesmo tempo excludente, na medida em que não torna o índio um cidadão brasileiro, e altamente paternalista, de uma maneira péssima, permitindo que maus elementos da etnia se achem inimputáveis pela lei, cometendo os mais variáveis delitos.

Vi recentemente uma matéria sobre indígenas dos EUA que vieram ao Brasil num encontro de povos ameríndios. Constatação da imprensa: os índios de lá estavam mais integrados à sociedade americana (uma índia mostrada era chef de cozinha, outro era professor), mas preservando sua cultura própria. Pois bem, era isso que eu pensava há muito tempo como uma opção viável para nossos índios, em especial os do sul do estado.

Os índios deixariam de ser brasileiros à margem das leis, mas passariam a ter os mesmos direitos e deveres que todos os cidadãos. Que se integrem na sociedade e que mantenham sua cultura, língua e costumes, se assim desejarem; como a exemplo de árabes, japoneses, alemães, italianos e toda gama de pessoas das diversas culturas do mundo que aqui vieram viver e mantêm seus hábitos, culinária, festas típicas, etc.

Para alguns que possam torcer a cara ante tal perspectiva lembro que a própria aldeia já não se parece mais com uma aldeia. As casas são isoladas, longe mesmo, uma das outras. Cada família possui seu lote de terra individual. E já não é mais tempo de se alterar isso.

Acho que o relativismo cultural dos antropólogos, assim como ainda um pouco de senso comum do mito do Bom Selvagem de Rousseau e por fim nosso velho preconceito, infelizmente às vezes fundamentado, atrapalhe ainda mais a integração (e não a aculturação) do índio na sociedade branca.

Mais terra para os índios também não solucionaria seus problemas. Isso seria um saco sem fundo e com algum tempo os mesmos problemas de pobreza se repetiriam, sem falar no custo proibitivo que isso acarretaria. A legitimidade das propriedades rurais dos produtores que margeiam a aldeia Jaguapirú deve ser respeitada. Também a idéia que há pouco se veiculou de realocá-los em áreas devolutas da Amazônia é estapafúrdia.

A prefeitura de Dourados e algumas universidades estão dando apoio aos índios. Além do aspecto assistencial, que nesse momento é primordial, há que se tomarem medidas, que os próprios índios devem pautar, para que eles possam se emancipar e terem condições de viver dignamente.

Quanto aos suicídios, para ser mais óbvio ainda, acho que deveriam fazer algo que talvez não tenham pensado: perguntar aos jovens indígenas o que os aflige e entristece a ponto de tirarem suas próprias vidas e o que eles gostariam de vislumbrar como um futuro melhor.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Acervo 1964

Meu pc anda com problemas, por isso a página não está no formato usual e os links não vão completos, têm que ser copiados e colados na barra de endereço. Mas resolvi fazer essa coletânea de textos (poucos, mas bons).

A Nanci veio falar que tento modificar a História. Nada disso, apenas tento fugir dos clichês que "eles" acreditam. Maidana e Fabricio dizem que não havia risco nenhum em 64. Não concordo. Imaginem se Jango não iria insurgir o restante das Forças Armadas, a exemplo do que fez na Marinha, para levar seu projeto adiante. O próprio Fabricio me disse que ao ler Gaspari, notou que em 64 seria um ou outro grupo a tomar o poder. Fala aí, Fabricio.

Vamos lá então. Especial sobre 64, o fato histórico que mais traz implicações na nossa realidade atual.Vamos tentar jogar mais luzes no negócio. A melhor passagem vai abaixo, do Reinaldo Azevedo, mas tem outras boas. Bon voyage.

"...Não! Não estou sendo dedo-duro de ninguém. Estou lembrando a história como ela é. Estou lhes dizendo que aqueles rapazes — Cony, Callado, Dines — faziam bem em desconfiar das intenções de um protoditador como João Goulart. Mas foram certamente ingênuos em achar que golpes de estado restauram a democracia — e, em 1968, o AI-5 deixaria isso claro. A história é um pouco mais nuançada do que essa pantomima de reparações que se tenta viver hoje. Já escrevi aqui e reitero: o livro Os Idos de Março merece reedição. É bom. Jango caiu por excelentes motivos. E uma ditadura foi instalada por péssimos motivos. Política se faz entre homens, não entre santos; existe até entre as putas, mas não entre as imaculadas. Assim, não venham reivindicar pureza pregressa para bater a carteira dos brasileiros."

http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2008/04/escolhas-histria-mentalidades.html

"Falava-se em cortar cabeças, essas palavras não eram metáforas. Se as esquerdas tomassem o poder haveria, provavelmente, a resistência das direitas e poderia acontecer um confronto de grandes proporções no Brasil - atesta Daniel Aarão Reis, professor de História da UFF e ex-guerrilheiro do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). - Pior, haveria o que há sempre nesses processos e no coroamento deles: fuzilamento e cabeças cortadas.” “Ninguém estava pensando em reempossar João Goulart”

http://www.averdadesufocada.com/index.php?option=com_content&task=view&id=994

Desfazendo alguns mitos sobre 64(melhor coletânea de textos no Orkut):

Desfazendo alguns mitos sobre 64.
Por Heitor De Paola

"Basta olhar quem hoje está no poder político da Nação para perceber que são os derrotados militarmente em 64, que venceram uma das batalhas mais importantes: a cultural. Refugiando-se nesta área negligenciada pelos governos militares, e baseando-se na desinformação e nas teses de Gramsci, passaram a escrever grande parte da história, principalmente aquela de alcance público, acadêmico e nas escolas de todos os níveis, novelas e minisséries de TV...

...Não havia, pois, opção democrática alguma. Restava decidir se teríamos o predomínio dos comunistas ou uma re-edição do Estado Novo ou de uma ditadura peronista, chefiados por Jango...

...Mas o documento em que a AP se declarava francamente a favor da instalação de uma ditadura ao estilo maoísta foi mantido secreto até para os militantes da base...

...Em janeiro de 68, 11 meses antes da edição do AI 5, a luta foi implementada por todas as organizações revolucionárias, menos o PCB. A AP “rachou”, eu fiquei do lado contrário à maluquice da luta armada e saí, não sem sofrer posteriormente sérias ameaças de meus “companheiros...”

Heitor De Paola é escritor e comentarista político...E é ex-militante da organização comunista clandestina, Ação Popular (AP).
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=19699594&tid=2523919331576532630

Há mais textos nesse link do Orkut, todos muito bons. Sou a favor do regime militar? Não. Parece que a herança tenentista e positivista dos militares, principalmente os da linha-dura, já os atiçavam na tomada do poder. Os comunas e revolucionários forneceram um bom álibi para os milicos. A democracia rodou.Retomo a frase do RA: "Jango caiu por excelentes motivos. E uma ditadura foi instalada por péssimos motivos."

Saldo para o Brasil (no link do RA):

"O espeto, que hoje já passa de R$ 3 bilhões — além de mais de R$ 28 milhões mensais — vai crescer. Basta, como sabemos, que o sujeito alegue algum pedigree esquerdista e que tenha sido demitido do emprego, ainda que por incompetência, e lá vai o estado reparar o agravo...

Nota na coluna de Elio Gaspari de hoje: “Para o banco de dados do Planalto: em 1952, a Alemanha negociou um acordo com o governo de Israel e se comprometeu a pagar 3 bilhões de marcos (US$ 5,8 bilhões em dinheiro de hoje) como reparação pelo que o nazismo fez aos judeus.O Bolsa Ditadura já custou à Viúva US$ 1,5 bilhão.”


Vou terminar aqui. Sem muito tempo e blogger ou pc com problemas.Até.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Os esquerdistas: estes doentes mentais


"Aprendi que um jovem cristão deixa de ser jovem, e há muito não é cristão, quando se deixa seduzir por doutrinas ou ideologias que pregam o ódio e a violência. Aprendi que um jovem começa perigosamente a envelhecer, quando se deixa enganar pelo princípio fácil e cômodo de que 'o fim justifica os meios', quando passa a acreditar que a única esperança para melhorar a sociedade está em promover a luta e o ódio entre grupos sociais, na utopia de uma sociedade sem classes, que se revela bem cedo na criação de novas classes."
(Papa João Paulo II)


Sei que é chato voltar a um assunto o qual prometi abandonar, só que não consigo. Li a notícia abaixo através do blog do Contra, de Gustavo Bezerra. Não me venham dizer que esta tal Liga dos Camponeses Pobres são oprimidos, vítimas do sistema, que não são. São assassinos, sociopatas que receberam doses cavalares de Marx e de doutrinação esquerdista. Pessoas que já tinham desvios e encontraram a justificativa moral para realizar suas perversidades.

Está aí o resultado das pregações de idiotas das nossas Universidades e excrecescências de pseudo-intelectuais. Quando não são os oportunistas picaretas do MST a sangrar o erário público, os não menos picaretas (na sua grande maioria) que recebem o bolsa-ditadura, chegamos a isso abaixo: assassinos. Provavelmente seria o que haveria em 64, se os malucos que estavam esperando Jango tomar o poder pusessem em prática o seu ideário (e não sou eu que falo sozinho, aguardem).

Interessante notar como nesses movimentos pseudo-sociais não observamos a presença de nipo-descendentes ou alemães. Por que será? Talvez porque eles tenham se preocupado em trabalhar da melhor maneira possível e não de se portar de forma vitimista e se aliar em bandos armados.

Sim, nossos esquerdistas de Orkut e blogs são doentes. Dementes. Usam celulares, Internet e tudo que o capitalismo proprorcionou de avanço tecnológico, mas falam mal do capitalismo. Não percebem que os melhores países do mundo são os mais capitalistas. A busca por lucro, leva a massificação dos produtos e sua consequente democratização.

Está aí a razão porque escrevo aqui. Os reacionários da esquerda estão em larga vantagem. Humanistas somos nós que respeitamos a propriedade privada ,sendo que a primeira propriedade privada é o seu próprio corpo, não é a toa que os esquerdistas, quando em sanha ideológica, tiram a vida do próximo. Humanistas, pois, somos nós que respeitamos a vida e respeitamos as liberdades individuais e o livre-arbitrío de cada pessoa.

Eles? Eles são reacionários que ainda não compreenderam o mundo onde vivem. São individualistas que não respeitam a opinião dos outros. Se fossem apenas perfeitos idiotas latino-americanos seria bom. Eles, no seu estágio mais avançado, são assassinos e nada mais.

O Brasil tem guerrilha
ISTOÉ entra na base da Liga dos Camponeses Pobres, um grupo armado com 20 acampamentos em três Estados, que tem nove vezes mais combatentes que o PCdoB na Guerrilha do Araguaia e cujas ações resultaram na morte de 22 pessoas no ano passado

Por ALAN RODRIGUES (TEXTO)
E ALEXANDRE SANT'ANNA (FOTOS) - Buritis (RO)


O barulho de dois tiros de revólver quebrou o silêncio da noite na pacata comunidade rural de Jacilândia, distante 38 quilômetros da cidade de Buritis, Estado de Rondônia. Passava pouco das 22 horas do dia 22 de fevereiro quando três homens encapuzados bloquearam a estrada de terra que liga o lugarejo ao município e friamente executaram à queima-roupa o agricultor Paulo Roberto Garcia. Aos 28 anos, ele tombou com os disparos de revólver calibre 38 na nuca. Dez horas depois do crime, o corpo de Garcia ainda permanecia no local, estirado nos braços de sua mãe, Maria Tereza de Jesus, à espera da polícia. Era o caçula de seus três filhos. Um mês depois do assassinato, o delegado da Polícia Civil de Rondônia que investiga o caso, Iramar Gonçalves, concluiu: "Ele foi assassinado pelos guerrilheiros da LCP."...


http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2003/artigo75560-1.htm

terça-feira, 1 de abril de 2008

Hoje é dia do Lula!


Parabéns presimente, hoje é seu dia!

Quem chegar hoje no Brasil e ouvir Lula falar, pensará que antes dele não havia Brasil, morávamos no limbo.

Lula se apropriou da estabilidade econômica obtida com o plano Real (que o PT foi contra, entre outras tantas coisas que hoje eles desfrutam). Aliás a grande virtude de Lula e companhia foi não ter seguido as bobagens que falavam da Economia quando eram oposição. Henrique Meirelles (ex-PSDB) seguiu austero no comando do Banco Central. Aí quem caiu na mentira foram os esquerdistas clássicos, masturbadores verbais do tal "neoliberalismo usurpador".

Quanto ao aspecto de Ética, quem caiu na mentira foram os militontos, ops, militantes do partido.

Lula colhe hoje os doces frutos que foram plantados por seus antecessores. Seja a estabilidade econômica, seja pela pujança da Economia em grande parte pelas privatizações da década passada, seja pelo etanol de cana-de-açúcar dos militares e por aí vai.

A última do presimente botequeiro foi a de falar que ligou pro Bush e disse: "Bush, meu filho. Nós ficamos 26 anos sem crescer,agora que a gente tá crescendo você vem atrapalhar. Resolve tua crise aí".

Mentiroso, fanfarrão e burro.

Graças aos EUA o mundo passou pelos 5 anos de maior prosperidade econômica mundial. A balança econômica norte-americana é negativa. Eles importam, ou consomem, muito mais do que exportam,graças a isso India e China também puderam obter crescimento.

Aliás, os EUA estão tentando amenizar a crise com um programa muito semelhante ao PROER brasileiro da década de 90. Programa esse que o PT foi contra, naturalmente.

Se o Brasil teve baixo crescimento até hoje não pode culpar os americanos, portugueses ou qualquer outro país. Tem que culpar a si próprio.

E o PT com sua arcaica cartilha socialista e postura de obsoletismo ideológico, analfabetismo econômico e oposicão cega e irascível que manteve nos seus mais de 20 anos de oposição, em muito contribuiram para nosso atraso.

Aliás, eu gosto do Lulla. Sempre que ele abre a boca rende boas risadas. Só espero eu não ter que ficar rindo pra não chorar por muito tempo.

1964, a mitologia persiste


Do debate, que quase não há, diga-se de passagem, sobre o golpe (ou contra-golpe como alguns o chamam) de 64, filtra-se a necessidade e o respeito à democracia. A ditadura acabou, ainda bem. Contudo, devemos ser mais argutos e informados sobre o tema para não cairmos em mistificações.

Muitos tentam esvaziar a tese da ameaça comunista, dizendo que foi uma desculpa para a tomada do poder. O caso não é tão simples assim. A ameaça comunista não era tão tênue e um golpe de Estado parecia surgir tanto de um lado quanto de outro. Se não viesse a tal ditadura do proletariado (eufemismo para ditadura comunista) talvez viesse uma reedição do Estado Novo populista (ao invés de Getúlio teríamos João Goulart). Goulart também poderia ser o Kerensky brasileiro, que seria mais tarde engolido pelos radicais bolchevistas.

Não é fácil dizer que caminho tomaríamos, mas o cenário brasileiro e mundial estava muito conturbado naqueles anos de Guerra Fria. Quem, na época, colocaria a mão no fogo por um governante que visitava com admiração a China comunista de Mao Tsé-tung entre outros tantos acenos ao socialismo? O próprio Luis Carlos Prestes, comunista ligado ao Komintern de Moscou e arquiteto da Intentona Comunista de 35, declarou em março de 1964: “Estamos no governo, mas ainda não temos o Poder”.

A classe média reagiu contra a radicalização dos gestos do governo. A Marcha da Família com Deus e pela Liberdade ocorrida em São Paulo, com um público participante estimado em 600 mil pessoas e que depois se espalhou em mais cidades do Brasil foram as maiores manifestações de repúdio ao caos social anunciado pelo governo de João Goulart.

A famosa Revolta dos Marinheiros foi como uma gota num copo d’água lotado. O cabo Anselmo liderou a revolta, sendo o almirante Sílvio Mota, ministro da Marinha, demitido por tentar reprimi-lo. Jango então nomeou para seu lugar o almirante Paulo Mário da Cunha Rodrigues, próximo ao Partido Comunista. A lembrança da Intentona Comunista de 35 na qual militares adeptos do comunismo pegaram em armas e assassinaram companheiros que estavam dormindo se reacendeu nas Forças Armadas, sem falar na evidente quebra da hierarquia militar realizada por Jango.

Por três vezes anteriores ao fato citado,os militares avisaram Jango que não aceitariam desmandos de ordem subversiva. A revista Cruzeiro estampou a foto de Jango após a intervenção militar, com os dizeres: "Caiu de burro".

Eis o contexto do “golpe” de 64, levando-se em conta o cenário internacional da Guerra Fria, principalmente se lembrarmos que havia menos de 3 anos que Fidel pusera-se a favor da URSS.

A ditadura deveria ter acabado antes, sem dúvida. Até Carlos Lacerda e outros tantos que apoiaram a deposição de Jango foram isolados da vida política e depois foram contra o regime militar. A democracia deveria ter vindo já em 1965 ou 1970, mesmo apesar dos guerrilheiros que lutavam não por democracia, mas sim por uma ditadura do proletariado, aos moldes cubanos ou soviéticos, ambas genocidas e totalitárias. Quem tiver dúvidas disso leia “A ditadura envergonhada” de Elio Gaspari.

Jango, Brizola, Arraes e outros podiam não ser comunistas de carteirinha, mas Fidel Castro também não declarava abertamente sua ideologia quando entrou em Havana em 1959.O regime cubano, tão adorado pelos inimigos mais ortodoxos da ditadura brasileira, é responsável por 17 mil mortos. No Brasil morreram 424 pessoas (incluindo guerrilheiros que foram mortos pelos próprios companheiros, os famigerados justiçamentos, tudo em nome da "causa" e do humanismo esquerdista). Nas mesmas proporções, seria admitir que se os inimigos iniciais dos militares de 64 tivessem tomado o poder teríamos mais de 200 mil mortos no período. Parece muito, mas perto dos 100 milhões de mortos do comunismo, a soma não é tão exagerada assim.

Enfim, este tema pode render muitas páginas de texto ou horas de discussão, não é num artigo que se esgota o assunto, há vários nuances a serem abordados. Volto ao início. A democracia se restabeleceu e a saudemos. Só não podemos ser pueris de considerar que havia uma luta do Bem contra o Mal, ou vice-versa. Quem acha que houve isso está se escorando na ignorância e na ingenuidade.


artigo de Rodrigo Constantino que dá boas informações acerca do cenário e fatos que motivaram a deposição de João Goulart:
http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2006/12/viva-o-terrorismo.html