domingo, 20 de setembro de 2009

A destruição criadora


A “destruição criadora” ou “destruição criativa” foi um termo usado por Joseph Schumpeter em seu livro “Capitalismo, Socialismo e Democracia”. Ela descreve o processo de inovação que tem lugar numa economia de mercado em que novos produtos substituem antigos produtos, empresas, modos de produção e negócios.

A luz elétrica substituindo as velas, máquinas de escrever sendo substituídas por computadores, carros no lugar das carroças, mostram o progresso através dessa destruição criadora.

Embora ela sirva melhor à sociedade, pois visa atender a demanda da população em geral, a destruição criadora vai sempre ter oposição dos que foram por ela tolhidos. Os donos das máquinas Olivetti não devem ter ficado contentes com o advento do computador, pois seu negócio inviabilizou-se quando seu produto tornou-se obsoleto.

Ainda no século 19 apareceram os “quebradores de máquinas” que destruíam as máquinas que, segundo eles, estavam roubando seus empregos. Para os olhos menos atentos aquilo parecia ser verdade, mas o que estava acontecendo é que a Revolução Industrial estava permitindo uma produção em massa que barateou e popularizou vários bens de consumo, pelo processo de produção ser mais eficiente. Os quebradores de máquinas tiveram que se adaptar a novas funções.

As máquinas na verdade propiciaram que muitos serviços insalubres ou cansativos deixassem de ter que ser realizados por pessoas. A colheita mecanizada da cana-de-açúcar é um paradigma que enfrentamos. Muito melhor para os trabalhadores seria que ao invés de serem bóias-frias sob sol escaldante, trabalhassem em fábricas e outros setores da cadeia produtiva que não demandasse tanto esforço físico e que já ocasionou até mortes.

Pois bem, dito isto, gostaria de voltar à nossa questão indígena.

Parte dos indígenas brasileiros ainda está em um processo de “destruição criativa”. O seu antigo modo de vida, que era o que toda a Humanidade possuía há uns 5 mil anos atrás, foi confrontado com um modo de vida que, sem sombra de dúvida, é mais eficiente para manutenção da espécie.
Vamos comparar: nossos índios não haviam domesticado nenhum animal, procediam uma agricultura de subsistência rudimentar e não possuíam nem uma escrita, ou seja, eram ágrafos, os registros se davam apenas por meio da tradição oral.


Isto não é problema nenhum, não há demérito para os índios de forma alguma. A Humanidade só evoluiu graças às trocas voluntárias ocorridas entre as diversas culturas, propiciadas pelas sociedades abertas. Todo nosso conhecimento e tecnologia foram obtidos pelos diferentes povos do mundo e por sua livre disseminação.

Quando os índios americanos viram os recém-chegados andando a cavalo não se questionaram se aquilo era algo “contra a cultura deles”. Eles apenas perceberam que era melhor do que percorrer longas distâncias a pé e também aprenderam a cavalgar nos animais.

Mas como eu disse, há sempre os que são tolhidos por essa destruição criadora. Os caçadores não são mais demandados, o alimento pode ser obtido ao se gerar algum valor mediante trabalho e que vai ser ressarcido por um elemento comum para trocas: o dinheiro. A tribo não precisa mais se deslocar atrás de alimento, etc.

A ruptura do modo de vida coletor e nômade gerou uma inércia dos que não se adaptaram ao novo sistema. É este ponto onde quero chegar: os movimentos sociais focam demais neste problema. Sim, é um problema real, a pobreza de boa parte de nossos indígenas. Levantam as mais diferentes bandeiras, colocando-os como vítimas de um sistema. Na verdade fazem o que fazem no mundo inteiro: alardeiam o mal, mas vendem falsos remédios para eles.

Estes pseudo-humanistas pedem uma volta ao passado, apelam para uma tal “dívida histórica”, sem, contudo, se ater nas dificuldades que os índios passavam quando eram coletores. Podiam pelo menos tentar viver dependendo de caça e pesca, andando nús, descalços e com parcos utensílios que ajudassem no dia-a-dia, para provar que os índios estavam de fato melhores no passado.

Tais quais os quebradores de máquinas do século 19, a melhor opção para os índios é a adaptação às atuais condições de vida que nos cerca.

Falar que o índio é um vagabundo, é uma mentira, é um preconceito. Os que falam isto não agüentariam meio dia de sol quente com um facão na mão cortando cana como os índios fazem. Acontece que trabalho não é só esforço físico, mas, sobretudo, organização, persistência e planejamento. E boa parte dos índios tem pecado nesse quesito.

O eletricista do meu carro é de origem terena. Conheci exímios campeiros também de origem indígena. Aliás, meu pai dizia que um bisavô dele havia se casado com uma índia. O Brasil é mestiço, é bobagem fazer uma separação obtusa de raças. Volto ao ponto: a solução para os problemas indígenas não é a simples ampliação de terras, mas sim uma integração harmoniosa na sociedade brasileira.

As novas gerações indígenas têm papel fundamental nisso. A educação e o investimento em capital humano são primordiais. Os índios podem ser médicos, professores, advogados, empresários, agricultores, mão-de-obra qualificada, o que quiserem ser, desde que as condições sejam proporcionadas e que realmente se esforcem e tenham méritos para isso.

Temos então duas opções: a adaptação à destruição criadora de Schumpeter, que promoveu o desenvolvimento da sociedade; ou a luta de classes de Marx, transfigurada em luta de etnias, que até hoje promoveu só mais injustiças e derramamento de sangue, mas que é a preferida pelos citados pseudo-humanistas.

Qual é a melhor opção?