Roberto Campos ajudou Getúlio Vargas a criar a Petrobras, que se dependesse dele seria de capital misto e não estatal. Campos também era contra o monopólio da empresa, a qual mais tarde passou a chamar de Petrossauro.
Após romper com Getúlio, reaparece no governo de JK, sendo o pai do Plano de Metas que tinha 3 linhas principais:
1) Austeridade orçamentária
2) Liberação cambial
3) Plano de desenvolvimento, o que JK mais gostou.
A construção de Brasília, com o conseqüente monumental dispêndio de verba, foi uma decisão única de JK, sobre a qual Roberto Campos foi contra.
Após toda turbulência do período Jânio/Jango, Roberto Campos torna-se ministro de Castelo Branco e juntamente com Octávio Bulhões, estabilizou a Economia contendo a inflação. Foi o período que Roberto Campos gozou de maior poder decisório.
Nas décadas de 50 e 60 foi defenestrado tanto pela esquerda, quanto pela direita nacionalista. A esquerda chamava-o de entreguista e alcunharam-no jocosamente de Bob Fields, insinuando submissão aos interesses estrangeiros. A verdade é que Campos não se preocupava com a nacionalidade dos investimentos, mas com os investimentos em si e o benefício que eles proporcionavam.
Já Carlos Lacerda disse que Campos matava os ricos de ódio e os pobres de fome. O “corvo” (apelido de Lacerda) não gostava da contenção orçamentária que Campos mantinha. A constituição de 1967 cujos artigos econômicos foram de autoria de Campos, segundo o próprio, foi a constituição menos inflacionista do mundo. Um dos artigos não permitia que o congresso nacional fizesse emendas ao orcamento que aumentassem os gastos públicos da União.
As palavras de Lacerda eram pura injustiça, na verdade tratava-se de ressentimento por não poder dar vazão aos seus anseios político/populistas. O plano de Campos no período de JK criou milhares de empregos no Brasil. O ajuste orçamentário no governo Castelo Branco saneou as finanças do governo e o bom ambiente para Economia propiciou a gênese do milagre econômico brasileiro. Neste período atribui-se que mais de 30% da população brasileira saiu da faixa de pobreza.
Contudo, após a linha-dura assumir o poder, iniciou-se uma onda estatizante a qual Roberto Campos foi contrário. Sem poder alterar o curso das coisas, ele deixou o governo e o país, fazendo como que um exílio branco.
Na verdade um exílio bem confortável e proveitoso. Campos ficou na Inglaterra e acompanhou de perto a subida ao poder de Margaret Thatcher e o início de suas reformas.
Roberto Campos voltou ao Brasil no início da década de 80 e foi deputado constituinte. Aí viria sua grande tristeza. Nenhum projeto seu foi aceito para ser incluído na nova carta magna do país. A constituição lhe parecia um arroubo de garantias irreais que prometia tudo, mas não dizia de onde viriam os recursos. Em vários pontos era ilusória e demagógica, apenas para os políticos posarem de bem feitores sociais. Campos batizou-a de constituição-besteirol e ressalvou que ela travaria o desenvolvimento do país.
Roberto Campos não quis assinar a carta magna por considerá-la anticapitalista. Já o PT não quis assinar por achá-la muito pouco socialista. Um cérebro contra uma turba e um bando de néscios no meio a amenizar a situação.
Durante o plano cruzado de José Sarney, com seu congelamento de preços socialistóide, foi uma das poucas vozes a criticá-lo, ao contrário de uma professora e também mentora do PT (chegando a se eleger deputada federal posteriormente pelo partido) que chorou de emoção ao decreto do referido plano. O fracasso de tal plano que como todo projeto socialista gerou escassez de produtos, mostrou quem tinha razão.
Já no período Collor, Campos aprovou a abertura econômica do país. O proteccionismo nacional era demasiadamente elevado. Contudo votou pelo impeachment de Collor. Convenhamos, não há nada mais anti-liberal do que o confisco na poupança que o presidente “Minha gente” fez.
Finalmente chegamos ao governo Fernando Henrique. A venda das paquidermes estatais oriundas de Getúlio Vargas e dos militares, empresas deficitárias que o governo mantinha à custa de impostos e impressão de papel-moeda, auxiliaram o plano Real ser bem-sucedido. A inflação baixou, o trabalhador não precisava mais sair correndo para fazer as compras do mês antes que os preços aumentassem. O imposto mais pernicioso para os trabalhadores e para os mais pobres finalmente estava controlado.
A inflação não era causada pela ganância dos empresários, como havia dito uma vez Luís Inácio Lula da Silva, mas sim pela expansão monetária do governo que, ineficiente, recorria à incrível máquina de fazer dinheiro da Casa da Moeda para cobrir seus gastos.
Mas as privatizações foram satanizadas pela mesma turma que foi diametralmente contrária a Roberto Campos por ocasião da constituição de 1988.
Para garantir as benesses sociais da constituição de 1988 e também para cobrir seus próprios custos sem lançar mão de expansão monetária, os impostos subiram do patamar de pouco mais de 20% do PIB para mais de 30%. Hoje estamos com quase 40% do PIB abocanhado pelo estado, uma das razões para o baixo crescimento da economia brasileira em comparação com de outros países em desenvolvimento.
O antigo sindicalista chegou ao poder já depois da morte de Roberto Campos, mas sabiamente (ou “sabidamente”) manteve a linha econômica do governo anterior, mas sem deixar de satanizá-lo e muito menos agradecer a herança bendita da estabilização econômica que só correu risco verdadeiro na iminência de sua eleição. A carta do PT aos brasileiros trouxe um pouco mais de tranqüilidade aos mercados.
Para Roberto Campos a pobreza deixou de ser uma fatalidade, para se tornar o subproduto de opções erradas e de desvios de comportamento. Segundo ele, conhece-se hoje a grande síntese do desenvolvimento sustentado: razoável estabilidade de preços na macroeconomia; competição na microeconomia; abertura internacional; e investimentos maciços no capital humano. As vigas do edifício são o respeito à liberdade empresarial e ao direito de propriedade.
Este foi Roberto Campos, um homem que teve opiniões sensatas e incrivelmente corretas, a ponto de serem proféticas, no decorrer da vida. Nota-se que nas tomadas de decisão sobre os rumos do país havia os que tinham opinião errada; os que não tinham opinião e levavam-se ao sabor do vento; e ele, Roberto Campos, que possuía a opinião mais coerente, mas que só depois da nação perder 20, 30 ou mais anos na direção errada é que se dava razão ao economista.
O monopólio da Petrobrás; a Lei da Informática, de 1984, que rejeitava capitais estrangeiros nesse setor; e a exigência de maioria de capitais nacionais na exploração mineral pela Constituinte de 1988; todas foram coisas as quais Roberto Campos lutou contra, e perdeu.
As consequências, em ordem, são: 1) temos uma das gasolinas mais caras do mundo; 2) o país perdeu quase 10 anos com tecnologia informática defasada; e 3) a Cia Vale do Rio Doce após ser privatizada se tornou uma gigante mundial do setor, demonstrando como estava aquém do seu potencial quando gerida pelo governo.
Disse ele uma vez, parafraseando De Gaulle: “Estive certo quando tive todos contra mim”. Realmente esteve, e para azar do Brasil, ele não foi ouvido.
Ao cair o muro de Berlim em 1989 e com os acontecimentos do início da década de 90, a Folha de São Paulo publicou um texto intitulado: “Ok Bob, você estava certo!” Sobre tais acontecimentos Roberto Campos sentenciou: “O colapso do socialismo não foi mero acidente histórico, resultante da barbárie da União Soviética ou da perversão de carniceiros como Stalin e Mao Tsé-Tung. Era algo cientificamente previsível. Os aludidos cientistas sociais teriam certamente chegado a essa conclusão se, ao invés de treslerem a história, tivessem lido os grandes liberais austríacos”.
Hoje em dia, em debates, sobretudo via Internet, as pessoas que argumentam contra as falácias socialistas e congêneres, se utilizam das frases espirituosas e lúcidas de Roberto Campos. Não seria exagero dizer em nome desses e de todos que tentam diariamente gerar valor para a sociedade:
Ave, Campos! Os que lutam em nome da livre iniciativa te saúdam!