Poucas pessoas parecem ter sido tão escolhidas a dedo para ocupar um cargo como o papa João Paulo II. Primeiro papa não-italiano dos últimos 455 anos da Igreja Católica, Karol Wojtila era polonês. Filho da mesma Polônia católica que fôra palco da divisão entre nazistas e comunistas, em 1939, logo após o tratado nazi-comunista de não agressão.
Karol Wojtila conheceu de perto o horror dos nacionais-socialistas de Hitler e logo após, e durante mais tempo, do totalitarismo de Stálin. Vivia então sob a opressão de um regime que negava Deus e que punha apenas o marxismo no seu lugar.
Desde sua primeira encíclica, “Redemptor hominis”, de 1979, e seu primeiro documento social, o “Laborem exercens”, de 1981, ele combateu o comunismo, ao qual criticou por causa do ateísmo e da perseguição dos cristãos, mas também pelos aspectos antropológico e sociais, como sistema injusto que alienava a pessoa humana.
João Paulo II foi o papa que mais visitas fez aos outros países, tal qual o bom pastor que cuida de seu rebanho. Carismático, suas reuniões reuniam milhares de pessoas. Foi numa dessas, talvez uma das mais importantes, que, de volta à sua terra natal, após ter ouvido seus patrícios gritarem pelas ruas “Queremos Deus!Queremos Deus!”, o papa exclamou: “Não tenham medo!”. A frase referia-se claramente à opressão dos comunistas face à liberdade e à religiosidade.
As palavras de João Paulo II foram como fermento numa massa de pão. Os movimentos anticomunistas se reacenderam na Polônia e serviram de exemplo para demais países subjugados pela cortina de ferro. Havia também o medo no Ocidente de um novo conflito mundial de proporções letais para Humanidade. João Paulo II novamente renegou o medo e afirmou a confiança em Cristo.
Em conversa com o jornalista católico Vittorio Messori, o Papa João Paulo II disse: “Seria simplista dizer que a Providência provocou a queda do comunismo. Ele caiu por si mesmo, como conseqüência de seus próprios erros e abusos. Caiu por si mesmo por causa de sua própria e inerente fraqueza”.
Mesmo diante de tais palavras, muitos historiadores justamente reconhecem o papel fundamental do papa na derrocada do comunismo.
Disposto ao diálogo e ao entendimento, encontrou-se com muçulmanos, cristãos ortodoxos e protestantes. Pediu perdão aos judeus e também pelas injustiças cometidas pela Inquisição. Fez a expiação dos erros do passado, mas mirou o futuro, reassumindo o compromisso com a fé católica.
João Paulo II também viu surgir no seio de sua Igreja um movimento que utilizava a retórica da luta de classes, a Teologia da Libertação, propalada por padres da América Latina. Condenando tal doutrina, chamou seus pastores, apontando para as falhas de uma filosofia equivocada e enganosa.
Apesar de sempre buscar a pregação aos jovens, o papa não abriu mão de princípios conservadores. A família é o tijolo fundamental da sociedade e da vida de cada pessoa, por isso a importância de se fortalecer o sacramento do matrimônio.
Embora tenha ficado do lado Ocidental durante a conturbada época da Guerra Fria, isto não deixou que João Paulo II fizesse suas críticas ao mundo que estava se delineando diante de si. Para ele a democracia não devia ser canonizada, os fundamentos morais e éticos deviam estar em primeiro lugar do que a simples escolha da maioria. É importante lembrar que Hitler foi democraticamente eleito e mesmo Jesus Cristo foi crucificado ante consulta popular.
João Paulo II chegou ao fim da vida como santo papa. Já no seu leito de morte, milhares de pessoas se reuniram na praça da Basílica em Roma para orar por ele. Ao saber da quantidade de jovens que lá estavam, disse a eles:
“Durante toda minha vida fui ao encontro de vocês, e agora, no final de minha vida, vocês vêm até mim!”
A gratidão dos jovens de todas as idades é que fez tantas pessoas se moverem à ele; e se a fé move montanhas, a fé de João Paulo II moveu muito mais. À ele só posso dizer: a benção, João de Deus!