domingo, 30 de maio de 2010

Errata

No texto: "A voz da Resistência", afirmei que quem havia se negado de partir em exílio à ameaça nazista, proferindo a frase: "Morrerei com o meu povo!" tinha sido a rainha Elizabeth II. Cometi um erro. Quem afirmou isso foi a mãe dela, Elizabeth Bowes-Lyon. Já corrigi no texto também.

19 mitos que você aprendeu sobre o Brasil


Este é o título da reportagem de capa da revista Superinteressante deste mês de Junho. A matéria é de Leandro Narloch, autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. Além dos mitos (pasmem, Santos Dumont não é mesmo o inventor do avião), a matéria explica a razão do surgimentos desses mitos, oriundos de uma visão enviesada da sociedade e que tomou corpo nas décadas de 60 a 80, anos da Guerra Fria.

"A nova geração de historiadores formou-se em ambiente menos tenso e polarizado, com maior liberdade de debate e um ambiente intelectual mais produtivo.", diz o professor José Murilo da UFRJ.

Antes tarde do que nunca, espero que diminua os preconceitos oriundos destas mistificações e deturpações da história e sociedade.

"Pesquisadores destroem as mentiras que você aprendeu na escola.", é o que está no arquivo on line da revista. Aí eles foram bem mais incisivos do que no impresso. Vou destacar algumas coisas que achei importante e que tem a ver com que já escrevi:

Mito 1: "A sociedade brasileira se dividia entre senhores e escravos"

=> Havia mais pessoas livres do que se imagina. No século 18, 40% da população era de escravos. No começo do século 19, 25%. E alguns senhores trabalhavam com os negros, já que tinham poucos escravos


Mito 4: "A Inglaterra fez o Brasil destruir o paraguai"

=> Ao contrário do se imagina, a diplomacia britânica tentou evitar o conflito. O país tinha investimentos no Brasil e no Paraguai que ficariam em risco em caso de guerra.


Mito 7: "O Paraguai era uma potência latente"

=>Era o país mais atrasado do Cone Sul. O comércio exterior era 6 vezes menor que o do Uruguai, que tinha a metade da população.


Mito 13: "Os índios do sudeste foram praticamente extintos"

=> Milhares de índios foram dizimados, mas outros preferiam deixar as aldeias e ir para as cidades, assimilando-se à população. Hoje na média 8% do genoma dos brasileiros tem origem indígena.


Mito 15: "Os quilombos lutavam contra a escravidão"

=> Lutavam contra a escravidão deles próprios, mas seguindo os padrões africanos, é provável que os membros poderosos tivessem escravos próprios.


Mito 16: "A Inglaterra foi contra a escravidão para criar um mercado consumidor"

=> A luta contra a escravidão na Inglaterra partiu de um movimento religioso e popular. Não passava pela cabeça dos homens de negócio ingleses acabar com a escravidão nas colônias britânicas na América.


Qual a importância disso? É que em muitos casos estes mitos conduzem a políticas públicas errôneas, quando não a preconceitos e difamações.



ps: o link que havia colocado estava dando acesso negado, por isso retirei-o.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A Dama de Ferro com as asas da Liberdade


Margaret Thatcher foi a primeira e única mulher a ocupar o posto de primeira-ministra da Grã-Bretanha. Curiosamente ela não era bem quista pelas feministas, assim como não gostava das bandeiras empunhadas pelas seguidoras de Simone de Beauvoir.

Esta aversão à luta entre sexos, movida pelas feministas, talvez fosse uma variável da aversão à luta de classes, movida pelos marxistas. A primeira é de uma importância menor do que a segunda, mas tanto numa quanto na outra, a Sra. Thatcher foi vencedora.

Dona de uma inteligência aguçada e de extrema clareza de opiniões foi graças a ela, a filha do dono de um mercadinho da pequena cidade de Grantham, que se disseminou a mudança de todo ideário político-econômico que regia o Ocidente até então.

Margaret Thatcher nunca teve medo de parecer politicamente incorreta. Suas ações, muitas vezes impopulares e nas quais ela manteve posições irredutíveis, lhe conferiram a alcunha de “a Dama de Ferro”. Segundo ela mesma disse, sua política era de “convicção” e não de “consenso”.

Engana-se, porém, quem acha que a Sra. Thatcher abria mão de sua feminilidade para isso, pelo contrário. Extremamente feminina, polida e educada, sua inflexibilidade se baseava na confiança do que estava fazendo, e não por querer impor algum estilo “sargentona”.

Na década de 70, a Inglaterra apresentava inflação e desemprego altos. Os serviços essenciais eram todos estatais e tinham qualidade sofrível. Os sindicatos emparedavam o governo e as empresas. O mais forte era o dos mineiros. Eram tão influentes que derrubaram o primeiro-ministro conservador Edward Heath na greve histórica de 1974.

Thatcher assumiu em 1979 com uma plataforma de reformas que decolou em 1984, quando ela decidiu enfrentar os mineiros. Ela queria, e conseguiu, fechar minas que custavam uma fortuna em subsídios. Aos poucos o poder dos sindicatos diminuiu, dando espaço para um amplo programa de privatizações.

O sonho de Margaret era a do capitalismo popular, no qual cada pessoa tivesse condições de acumular patrimônio e poupança. As empresas privatizadas tiveram lotes de ações reservadas para serem adquiridas entre os funcionários de maneira facilitada.

O desemprego que num primeiro momento aumentou após suas medidas se deu por muitos empregos estatais serem inúteis, ou seja, os postos de trabalho eram cabides de emprego. A situação se assemelhava muito com a máxima de Bastiat, que disse: “O estado é a grande ficção na qual todo mundo tenta viver à custa de todo mundo”.

Thatcher, que tinha “O Caminho da Servidão” de Hayek como livro de cabeceira, conseguiu transformar a Inglaterra num país de oportunidades. Seus sucessores, o conservador John Major assim como o trabalhista Tony Blair, em nada mudaram a linha econômica deixado pela Dama de Ferro.

Sobretudo, a importância de Margaret Thatcher reside na demonstração que ela fez de que a livre-iniciativa das pessoas é mais benéfica do que o planejamento centralizado que era defendido pelos simpatizantes ao sistema vigente nos países comunistas.

Como muito corretamente observou o jornalista e escritor Paul Johnson: “O mundo entra no terceiro milênio mais sábio devido, em boa parte, à filha de um comerciante que provou que nada é mais eficaz do que a força de vontade aliada a idéias claras, simples e praticáveis”.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A voz da Resistência

We shall never surrender!







Depois daquela noite em Londres, quando a cidade havia sido bombardeada pelos aviões da Luftwaffe alemã, a Sra. Jones atordoada entre os destroços apenas pensa que é questão de tempo para aquelas bombas atingirem sua casa. A destruição e morte iminentes causam-lhe calafrios. Talvez fosse melhor que a Inglaterra se submetesse logo ao domínio de Hitler para evitar maiores perdas. Ansiosa para saber notícias de como estavam as demais localidades do país, ela liga o rádio.

Escuta então uma voz já familiar, rouca e pausada. Era o primeiro-ministro inglês reproduzindo o seu discurso de horas antes na Câmara dos Comuns: “...e nunca antes no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos.”

A Sra. Jones então ficou sabendo de como os Spitfires e Hurricanes digladiaram com os ME 109 da Luftwaffe pelos céus da Grã-Bretanha, estando em proporção muito diminuta em relação à força aérea alemã, tanto em número de aviões quanto de pilotos. Os que eram abatidos, que dos céus conflituosos caíam em seus pára-quedas, eram por automóveis resgatados e levados para algum aeródromo próximo onde, rapidamente, embarcavam em outros aviões para retornarem aos acirrados combates aéreos.

A inglesa então se emocionou ao lembrar que doara boa parte de suas panelas para a produção de fuselagem das aeronaves, pois o bloqueio alemão dificultava o acesso à importação de metais. Lembrou-se do relato de alguns amigos judeus que contaram como Hitler estava confinando aquele povo em campos de concentração. Quem iria garantir que ele não faria tal coisa na Inglaterra?

A frase da rainha Elizabeth: “Morrerei com o meu povo.”, ao se negar em partir para o Canadá, num exílio de fuga à ameaça nazista, fez a Sra. Jones se convencer de que era melhor resistir à se entregar. A luta pela Liberdade não tinha preço. E foi nesse pensamento que ela buscava motivação nas palavras daquele homem que falava ao rádio: Winston Churchill, a voz da Resistência.

Durante praticamente dois anos a Inglaterra lutou sozinha contra o poderio alemão. Tivesse ela caído, o mundo atual seria muito diferente do que conhecemos hoje. Churchill, já na década de 30, alertava para a ameaça nazista, sem, contudo, conseguir convencer a maior parte de seus patrícios para o futuro turbulento que os aguardava. Mas foi no período de maior necessidade que nele foi depositada a responsabilidade de comandar a Inglaterra no seu maior desafio, e foi através do rádio que ele conseguiu transformar uma nação desmoralizada num povo de resolução inquebrantável.

Hitler teve seu destino traçado quando atacou a ex-URSS, quebrando o pacto de não-agressão nazi-soviético, e abrindo duas frentes de combate. E também quando o Japão atacou Pearl Harbour, fazendo que os EUA até então neutros no conflito, mesmo ante os pedidos de ajuda de Churchill, entrassem na Segunda Guerra Mundial.

Após a entrada dos EUA ao grupo dos Aliados, Churchill mais uma vez demonstrou-se lúcido e profético: “Ganhamos a guerra!”. Contudo, não fosse a resistência do Reino Unido até aquele momento, não há dúvidas de que o desenrolar da História teria sido completamente diferente.


É interessante notar que muitos até hoje, tentam desqualificar um debatedor por sua classe social. Pois bem, durante a Segunda Guerra Mundial, o líder aristocrático era Churchill, ele fazia parte da elite britânica. Já o líder popular era Hitler, eleito Fuhrer pelo Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Quem tinha a razão e os ideais mais nobres? O líder aristocrático ou o líder popular?

Churchill, após a guerra anteviu a nova ameaça que estava se formando: o imperialismo soviético. Alertou o então presidente Truman para o novo conflito que se iniciaria e lúcido como sempre, posteriormente declarou: “A Rússia soviética instalou-se no coração da Europa. Este foi um momento fatídico para a Humanidade.” Foi Churchill quem cunhou a expressão “cortina de ferro”, para designar os países que estavam no leste europeu sob o jugo da URSS.

Espantosamente, Churchill perdeu as eleições nacionais subsequentes à Guerra. O rei, logo em seguida, ofereceu-lhe a Ordem da Jarreteira, a mais cobiçada do império britânico. Churchill recusou-a com uma de suas tiradas típicas: "Obrigado, majestade, mas não ficaria bem. O povo acaba de me dar a ordem da botina". Humor sarcástico e espírito democrático.

Winnie (como gostava de ser chamado) ainda viveria mais duas décadas. Voltou a chefiar o gabinete por mais quatro anos (aos 77), ganhou o Nobel de literatura por sua obra História dos Povos de Língua Inglesa. Em 1953, dois anos após ter se elegido novamente primeiro-ministro, aceitou então a Ordem Jarreteira das mãos da jovem rainha Elizabeth II, filha da que ajudou Churchill a elevar a confiança do povo inglês. Winnie agora era um Sir, e a honra era da Inglaterra.



*Excertos de discursos e frases célebres de Winston Churchill:

“...E não creiam que isto seja o fim. É apenas o começo do ajuste de contas. Este é apenas o primeiro gole; a primeira prelibação de uma taça amarga que nos será oferecida ano a ano, a menos que, por uma suprema recuperação da saúde moral e vigor guerreiro, nos reergamos e tomemos posição em defesa da liberdade como nos tempos de outrora.”

“Finalmente eu tinha a autoridade para comandar todo panorama. Sentia-me como se estivesse caminhando com o destino e que toda minha vida passada fora apenas um preparo para esta hora e para esta prova.”

“Eu diria a Câmara o que disse aos que se juntaram a este governo: Nada tenho a oferecer, exceto fadiga, sangue, suor e lágrimas.”

“Iremos até o fim. Lutaremos na França, lutaremos nos mares e oceanos, combateremos com confiança cada vez maior e com crescente poderio nos ares; defenderemos nossa ilha custe o que custar. Combateremos nas praias, combateremos nas pistas de pouso, combateremos nos campos e nas ruas, combateremos nas colinas. Jamais nos renderemos! E mesmo que esta ilha seja subjugada e reduzida à fome, no que não creio um momento sequer, então nosso império de além-mar armado e defendido pela frota britânica, prosseguirá na luta, até que, quando Deus quiser, o Novo Mundo, com toda sua força e seu poderio, se apresente para salvar e libertar o Velho Mundo.”

“A batalha da França está terminada. A batalha da Grã-bretanha está prestes a começar. Dela depende todo nosso modo de vida. Toda fúria e todo vigor do inimigo deverão em pouco tempo ser assestado contra nós. Se fracassarmos, o mundo inteiro cairá no abismo de uma nova era de obscurantismo, tornada ainda mais sinistra, e talvez mais prolongada, pelas luzes de uma ciência pervertida. Portanto, cobremos coragem para cumprir nosso dever e nos comportemos para que, se o Império Britânico e a Comunidade das Nações durarem mil anos, os homens ainda assim possam dizer: Este foi seu momento de glória!”






A banda inglesa Iron Maiden fez uma música chamada Aces High, sobre a batalha da Inglaterra. O vocalista Bruce Dickinson curiosamente é historiador e piloto de avião. No início do clipe há um trecho do famoso discurso de Churchill.