domingo, 29 de junho de 2008

Publicação

"O camarada humanista e nós" foi publicado pelo jornal do sindicato rural local. Por motivo de espaço, dois parágrafos foram cortados. O texto na íntegra está no link abaixo. Os parágrafos cortados coloquei em azul, caso alguém que leia o jornal acesse este blog.

http://augustoaraujo.blogspot.com/2008/02/o-camarada-humanista-e-ns.html

É bom lembrar que Lênin está servindo como nome de um personagem de uma novela atual da rede Globo. É o filho do maluco beleza que acha que a mulher foi abduzida por ETs (é, já assisti alguns capítulos da novela mesmo), que se chama "Shiva Lênin". Ao dizer seu nome para outro personagem, este exclamou: "Você tem o nome do herói da revolução russa!"

Pois é, que herói. Desinformação pouca é bobagem.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Mudança no visu

Como não tenho contador de visitantes, não faço a menor idéia da audiência deste blog. Penso que tenha uns 5 leitores usuais, amigos meus, e internautas advindos do Orkut, que passeiam pelos perfis.

Mesmo assim, comunico que resolvi mudar um pouco o visual do blog, mas muito pouco. Alguns podem já ter notado que uso letras grandes, mais até ao estilo negrito. Míope que sou, me causa repulsa letrinhas miúdas na frente do PC.

Agora percebi que o fundo branco, embora bonito e limpo, estava causando um brilho muito grande na vista. Resolvi então mudar, e por enquanto optei por um cinza ou gelo, não sei bem o nome da cor, mas que ofusca um pouco menos.
É isso.

sábado, 21 de junho de 2008

Girl Power - As Superpoderosas















Pois é, como não tenho muito talento pra ficar escrevendo toda hora, me contento em dar dicas de boas leituras. Destaco agora as garotas. São quatro, e como uma se chama Nariz Gelado e o desenho das meninas superpoderosas não tem um mínimo traço de nariz, acabou dando certo a ilustração do post já que coloquei a imagem que a própria Nariz Gelado tem em seu blog.

Como entro no portal "A Postos" praticamente só pra ler duas delas (Janaína Leite e Nariz Gelado), resolvi colocar o link direto. Comento cada uma das quatro agora.
1 - Janaína Leite:
Já foi apresentada aqui, seu blog se chama Arrastão. Este post http://arrastao.apostos.com/2008/06/retrato_brasileiro.html, que foi destacado pela Nariz, foi de arrepiar.
Pena que De Gaulle tinha razão e não vivemos num país sério.
2 - Nariz Gelado
Que ótima epígrafe:
Quando a geada ameaça a planície, este meu arrebitado nariz congela. A geada é minha razão de ser. A História é meu escudo e minha lança. À espera de um longo e rigoroso inverno, escrevo. Eu sou Nariz Gelado.
O blog é longevo e de extrema lucidez. Olavo de Carvalho cobrou o R.G. da Nariz. E precisa?
3 - Suzy
Vou linkar o blog de entrevistas dela que são magníficas. Vejam a lista dos entrevistados:
Maria Lúcia Victor Barbosa
Charles London
Graça Salgueiro
José Nivaldo Cordeiro
Rodrigo Constantino
Aluízio Amorim
C. Antônio
Quem quiser ir pro blog próprio da Suzy é só linkar de lá. O blog (de entrevistas) se chama Direto do Abismo (!?), a imagem é ótima e a trilha sonora (muito AC/DC) de primeira.
Suzy leu e compreendeu muito bem todos os articulistas/blogueiros acima mencionados. Altamente recomendado.
4 - Yoani Sánchez
A blogueira cubana do blog Generácion Y.
É inacreditável o tanto de comentários que existem para seus posts. Há um de 12 de Junho em que constam 4 498 comentários!Isto mesmo, QUATRO MIL QUATROCENTOS E NOVENTA E OITO comentários. Há outros com mil, dois mil, três mil comentários básicos.
Yoani Sanchez ganhou o prêmio Ortega y Gasset recentemente, mas obviamente não pôde sair de Cuba para recebê-lo. Também o Coma Andante, no seu livro recém-lançado, dirigiu críticas veladas a ela.
Yoani não é nem contra-revolucionária. Apenas expressa um respingo de liberdade. Como não prenderam ela ainda, não sei. A Internet é altamente controlada pela ditadura castrista, parece-me que Yoani posta rapidamente de um Hotel que trabalha.Mas já adquiriu notoriedade internacional e não parece ser mais desconhecida em Cuba. Talvez isto esteja salvando sua vida até aqui.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Clipping e comentários

1- Um editorial do Estadão, que corrobora e complementa o último artigo que escrevi. Eu não o li previamente, muito menos eles me leram, trata-se apenas de bom-senso.

A rigor, é como se houvesse um acordo tácito entre os agressores e o poder público. Eles podem nutrir delírios medievais, mas parecem ser suficientemente espertos para não extrapolar nas suas incursões, praticando crimes contra a pessoa que levantariam tamanha grita a ponto de obrigar o Estado a acabar com a sua consagrada impunidade.

http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2008/06/viciados-em-violncia.html

2- Dois artigos de Denis Rosenfield sobre a questão fundiária. Interessante que ele fala no segundo que houve quem ficasse surpreso com os dados por ele apresentados. As áreas de assentamentos e reservas são idênticas as áreas de agricultura e pecuária . Pois Xico Graziano há muito já apresentava estes dados. Quem quiser saber mais sobre o campo tem que ler os artigos do Xico.

http://www.diegocasagrande.com.br/index.php?flavor=lerArtigo&id=683

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20080609/not_imp186113,0.php

3- Erislandy Lara, o boxeador cubano que Tarso Genro, Lulla e cia devolveram à ditadura castrista, fugiu novamente de Cuba. Merece um post especial, mas estão aí dois artigos irretocáveis.

http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2008/06/um-jab-na-dinastia-castro.html

http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2008/06/tarso-genro-o-capito-do-mato.html

4 - E por último, e talvez o mais importante para o dia-a-dia geral, um artigo sobre a CSS ,a nova CPMF. Atentem, além do ótimo texto, o desenho perfeito. Cobrem os senadores. Também divulgarei mais o tema futuramente.

http://afonsocachorrao.blogspot.com/2008/06/assaltantes-de-gravata.html


Por enquanto é só, pessoal!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Batendo na cangalha do(s) burro(s)


Meu pai dizia a expressão “Batendo na cangalha”, referindo-se ao gesto ou meias-palavras de pessoas que davam o recado de maneira não totalmente direta, mas através destes sinais, numa alusão ao carroceiro que bate na cangalha do seu animal de tração (geralmente um burro de carga) para dar uma ordem, mas sem vocalizá-la. Apesar de ruidosos, foi este o âmago dos protestos dos tais “movimentos sociais” em 11 estados no mês de junho.

Cito apenas algumas particularidades. Houveram protestos no RS contra o eucalipto. A demanda por madeira continua alta, seja in natura, seja pelos subprodutos como a celulose. De modo que quem quer preservar a Amazônia e florestas naturais, presta um grande desserviço ao meio ambiente em ser contra a silvicultura comercial.

Também interessante foi o protesto no Nordeste. Destruíram um laboratório de pesquisa com cana-de-acúcar. Quem conhece os canaviais do sudeste e centro-oeste do país, sabe que boa parte da mão-de-obra vem de nordestinos egressos da terra natal em busca de emprego e renda. Porque então lutar contra esta cultura, na própria terra dos trabalhadores?

Sim, há os velhos conceitos anticapitalistas nos protestos. “Contra a monocultura.”, “Contra a concentração fundiária.”, etc, etc. É o velho ranço do subdesenvolvimento intelectual arraigado no meio acadêmico e ungido por setores da Igreja Católica. Enquanto não respondermos à altura os argumentos destes senhores, teremos que conviver com eles. Ou então que nos unamos a eles e estendamos os protestos a mais setores!

Que tal sermos contra a monocultura das montadoras de automóveis, que só sabem fazer veículos automotivos? Talvez as grandes redes varejistas também deveriam ser criticadas. Pior é a concentração de computadores que utilizam o Windows. Abaixo todos eles!
Só não sei o que dizer aos usuários de automóveis (sejam populares ou de luxo), aos que compram no crediário em lojas populares e aos crescentes usuários de computador no país.

Quem se opõe ferrenhamente ao desenvolvimento natural das atividades econômicas, seja no campo ou na cidade, não está ajudando em nada a minorar os problemas sociais, pelo contrário, contribui para mais atraso e exclusão social. É o que fazem a maior parte destes tais movimentos sociais.

No meio das lideranças dos tais movimentos (anti) sociais, há os ideologistas, sim, mas há mais os oportunistas que fizeram daquilo um meio de vida. É a estes que escrevi o título do artigo.

Nunca antes na história deste país houve tanto dinheiro passeando na mão de ONGs e dos tais movimentos (anti) sociais. As ações conjuntas deles atrapalham, mas não irão colapsar o sistema capitalista, o bode expiatório para todos os males do Universo. Boa parte deles sabe disso. Mas seguem piqueteando e mandando seu recado codificado ao governo:

“Estamos aqui. É ano de eleição e queremos dinheiro. Observem bem, há muitos votos na nossa mão!”

E o governo? Bom, este põe a polícia para funcionar e os manifestantes após terem dado o recado saem de cena. Ninguém é responsabilizado pelos danos e prejuízos causados. O recado é entendido pelo burro de carga e este segue mandando dinheiro e esperando os votos dos movimentos (anti) sociais.

Mas eu pergunto: o burro de carga nesta história é o governo, ou quem financia o governo pagando os impostos?
Publicado pelo Correio do Estado em 13/06/08

domingo, 1 de junho de 2008

Dois artigos primorosos

Um é de Gustavo Bezerra, do blog do Contra. Outro é uma tradução da The Economist, no blog Resistência.

Gustavo discorre sobre Maio de 68 e a mitologia que cerca a data. Faço algumas observações:

1- De 68, o que teríamos de mais "libertário"ou democrático, seria a tentativa da Tchecoslováquia sair do comunismo e migrando para algo mais próximo da social-democracia. Mas os soviéticos amigos de Fidel, Che, Mao e tantos outros que eram aclamados pelos jovens parisienses, e mesmo brasileiros, sufocaram o movimento reformista tcheco.

A primavera de Praga, a meu ver, deveria ser o grande alvo de estudo de 68. No blog Realismo Socialista há cenas comoventes documentadas. - coincidentemente, tenho uma prima morando em Praga, é casada com um tcheco. Infelizmente, por motivos pessoais, não poderei visitá-la este ano.

2- Fiquei sabendo pelo texto do Gustavo que Nelson Rodrigues disse que não havia nenhum negro na passeata dos 100 mil.

Com certeza, estes movimentos "populares"sempre tiveram muito pouco de povo de verdade. O melhor cronista da época foi chamado de reacionário por seus pares, não?Nelson não engolia essa máscara libertária de 68. Tem um texto dele chamado "O ex-covarde"que é muito bacana.

3- Segundo Gabeira, no Brasil o muro de Berlim não caiu. Depois que entrei na Internet percebi com mais clareza isso mesmo, dentro de alguns debates e "formadores de opinião". Já tinha percebido algo em aulas de História/Geografia na escola e Filosofia/Sociologia na faculdade (cursei um ano de jornalismo).

De forma que não concordo com Gustavo quando ele diz que 1989 não terminou. Pelo menos no Brasil nem começou.

Quanto ao outro artigo:

Trata-se do lançamento de um filme sobre a aliança nazi-comunista e a semelhanças das duas ideologias. Os dois monstros totalitários, coletivistas que buscavam o "bem comum", em detrimento do indíviduo.

O fato de entrarem em guerra depois não é contraditório, haja visto as disputas e mortes entre leninistas, trotskistas, stalinistas, etc. Ou seja, comunistas sempre brigaram e se mataram entre si, esta história de que os nacionais-socialistas eram opositores "naturais" dos comunistas, etc, etc, é balela.

E a notícia de que os russos não gostam de lembrar este passado é interessante. Já li algo a respeito da tal "amnésia histórica" sobre as barbáries na Rússia sob o comando comunista. Ao contrário dos alemães que sofrem por saber dos crimes nazistas, parece que os russos querem varrer a poeira pra debaixo do tapete.

O filme parece documentar um pouco da tragédia de Holodomor sobre a morte de 7-10 milhões de ucranianos. Juntamente com a primavera de Praga, este fato também deveria ser mais evidenciado nos nossos livros de História. Afinal se houve uma nação realmente imperialista e maléfica no mundo foi a URSS e não os EUA, como os dementes nas escolas e faculdades insistem em repetir.

O cineasta letão tem sido alvo de perseguições na Rússia. Pois é, acho que se lançarem um filme no Brasil contra os preceitos esquerdistas, talvez mostrando a verdadeira face da guerrilha, - i.e. porque não mostraram Carlos Lamarca ordenando e acompanhando a morte do Tenente Alberto Mendes Júnior, no filme "Lamarca"?- teríamos as mesmas reações por aqui.

Os textos estão na íntegra e separadamente em posts abaixo desse. Destaco dois excertos ótimos de um e de outro:

"...Enfim, 1968 passará à História não como o ano da liberdade, mas do flerte com o totalitarismo. Não o ano do surgimento de uma nova geração, mais consciente e politizada, mas de uma multidão de palermas e zumbis ideológicos.

Muito mais importante, do ponto de vista político, foi 1989, a meu ver este sim o ano que não terminou. Não apenas porque, tendo nascido em 1974, pude presenciar, ao vivo e a cores, os acontecimentos desta última data, ao contrário daquela, que só existe para mim em livros e documentários em preto-em-branco. Mas principalmente porque, ao contrário de 1968, 1989 foi uma data verdadeiramente libertária, em que os ventos da mudança realmente sopraram em vários países, levando consigo o regime totalitário mais odioso da História.

Infelizmente, esse processo ainda não se completou, abortado em nosso continente pelos remanescentes de 1968, que insistem em restabelecer, na América Latina, o que se perdeu no Leste Europeu. O ano de 1989 ainda não terminou. O de 1968 precisa acabar."

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"...Conforme Françoise Thom (uma dos muitos luminares anti-comunistas que aparecem no filme) explica: “O Nazismo baseava-se na falsa biologia; o Marxismo baseava-se na falsa sociologia”. O sonho marxista do “homem novo”, por exemplo, espelhava a idéia nazista da superioridade racial. Os nazistas matavam principalmente com base em fundamentos raciais, enquanto os soviéticos matavam com base na classe social. Mas assassinato em massa é assassinato em massa."

1968: o ano que precisa acabar

Por: Gustavo Bezerra

Algum tempo atrás, em um comício, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, exortou os franceses a "liquidar a herança de Maio de 1968".Sarkozy tem muitos defeitos - seu estilo está mais para Berlusconi, por exemplo, do que para De Gaulle -, mas, aparentemente, o deslumbramento e a reverência beata em relação ao que foi o "ano que não acabou" não é um deles.

O presidente francês não padece do mal bastante comum entre muitos de sua geração, e principalmente entre os mais jovens, que insistem em ver os acontecimentos de 1968 com devoção supersticiosa, como se tivessem sido uma espécie de catarse libertária coletiva, de revolta geral contra o autoritarismo dos mais velhos e pela libertação individual. A lucidez de sua exortação só é comparável a seu bom gosto para as mulheres e talento para a autopromoção. Palmas para ele.

Este ano, 1968 completa quatro décadas. Como ocorreu dez anos atrás, a efeméride está sendo lembrada com uma nova enxurrada de livros, filmes e entrevistas, entremeada por um clima irritante de nostalgia, em que senhores e senhoras grisalhos relembram aquele período áureo de sua juventude, em que sonhavam mudar o mundo (para melhor? duvido muito). Via de regra, os mais jovens só ouviram falar de 1968 e dos anos 60 em geral por intermédio dessas lembranças, bastante seletivas, de velhos intelectuais "meia-oito" ou "soixante-huitards". Natural que sua visão sobre as barricadas de maio de 68 em Paris e os protestos estudantis ao redor do mundo, assim como sobre a "flower generation" e os hippies, seja tão fiel à realidade dos fatos quanto a série "O Senhor dos Anéis"...

Nos países ocidentais, o ano de 1968 já adquiriu o status de mito, um divisor de águas da segunda metade do século XX. E, como ocorre com todos os mitos, sua base fundamental não é a dura e feia realidade, mas o desejo, a vontade de que as coisas se encaixem em nossos sonhos. A lenda mais persistente sobre aquele período é que este teria sido um momento de explosão libertária. Trata-se de um equívoco, fruto da ignorância e da manipulação.

De libertário, 1968 não teve nada, ou muito pouco. Basta ver os slogans dos estudantes rebelados em Paris: ao lado de bordões anarquistas como "É proibido proibir", ou românticos como "Sejamos realistas: exijamos o impossível", encontravam-se platitudes marxistóides como "Abaixo o imperialismo norte-americano no Vietnã", "Viva Che Guevara", ou "Deus: te suponho um intelectual de esquerda" (este último, um lema da então nascente teologia da libertação, de famigerada memória).

O caráter muito pouco libertário de 1968 pode ser atestado pelo seguinte fato: aquele foi o ano da retomada mundial das esquerdas, desgastadas após décadas de stalinismo e burocratismo dos antigos partidos comunistas, vistos com cada vez mais desconfiança pelos mais jovens. Foi o momento em que a geração nascida durante ou após a Segunda Guerra Mundial - a geração de meus pais - se insurgiu não apenas contra o "velho", tudo que era antigo e cheirava à autoridade, mas também contra o que, até os dias de hoje, é novo - os valores da democracia liberal, como a tolerância e a liberdade de pensamento, algo ainda tão estranho a nós, deste subdesenvolvido Brasil.

De certo modo, o conjunto de revoltas estudantis ocorridas quase simultaneamente naquele ano - em Paris, Roma, Berlim, Tóquio, Rio de Janeiro - foi uma revolta não contra as velhas práticas e objetivos da esquerda, mas a favor delas. Buscava-se então recuperar aquilo que as esquerdas ocidentais haviam perdido durante os anos sombrios do pós-guerra na Europa - não por acaso, a palavra mais repetida em 1968 não foi "liberdade", mas "revolução". Daí o surgimento, nesse período, da "esquerda festiva" e da "New Left", capitaneada por figuras como Noam Chomsky e Tariq Ali, campeões do antiamericanismo e do populismo terceiromundista mais vagabundos, recobertos com uma embalagem "pop-chique".

Estes fizeram muito barulho protestando contra as atrocidades norte-americanas no Vietnã, onde trataram de transformar uma vitória militar numa derrota política, demonstrando assim os incríveis poderes de manipulação da televisão. Mas quase não se ouviu a voz deles quando se tratava de condenar os crimes do Vietcong... (é que estes, ao contrário das cenas de combate envolvendo os marines estadunidenses, não apareciam no noticiário da noite).

Que o libertarianismo associado aos anos 60 e às esquerdas seja uma farsa, não é algo muito difícil de constatar. Basta recordar que muitos dos estudantes franceses que ocuparam a Sorbonne ou seus colegas brasileiros que atiravam pedras na polícia tinham como modelos a China de Mao Tsé-Tung e a Cuba de Fidel Castro.

Na China, na mesma época, o Grande Timoneiro, que já contava mais de setenta anos de idade, arregimentava a juventude fanatizada por seu "Pequeno Livro Vermelho" contra a "velha geração", na chamada "Revolução Cultural" (na verdade, anticultural). Milhares de adolescentes chineses, gritando slogans e usando o uniforme dos Guardas Vermelhos, dedicavam-se a espancar e a humilhar seus professores, em nome do presidente Mao. O resultado foi uma multidão de mortos, num dos períodos mais sombrios de um dos regimes mais sanguinários de todos os tempos.

Em Cuba, o ditador Fidel Castro, visto como exemplo de revolucionário pelos jovens contestadores de então, mobilizava a polícia política para cortar à força os cabelos compridos dos jovens cubanos, enviando os homossexuais para "campos de reeducação" e tendo proibido, inclusive, o rock (em mais um exemplo de oportunismo ideológico, e percebendo o sex-appeal da cultura de 68, o tirano barbudo inaugurou em Havana, há alguns anos, uma estátua de John Lennon - um "antiimperialista", segundo ele...).

O mesmo Fidel Castro, que na mesma época recolhia os dividendos do mito recém-criado em torno da morte de Che Guevara na Bolívia, justificou, num discurso vergonhoso, a invasão da Tchecoslováquia pelas tropas soviéticas, em agosto daquele mesmo ano. O que demonstra que toda a "onda jovem" geralmente associada aos anos 60 teve, na verdade, um forte componente de mentira e manipulação.

No Brasil, o ano de 1968 também foi agitado, como sabemos. Aquele foi o ano das grandes demonstrações de protesto estudantil contra os militares no poder, como a Passeata dos Cem Mil no Rio de Janeiro ("não vi um negro", escreveu Nelson Rodrigues, certamente o melhor cronista daqueles tempos;). Ao mesmo tempo, cozinhava-se na caldeira dos protestos o que seria o plat du jour daqueles tempos de chumbo: o terrorismo. No Rio de Janeiro, em julho, um comando terrorista de esquerda assassinou a tiros um major do Exército da Alemanha ocidental, tomando-o pelo militar boliviano que prendera, no ano anterior, Che Guevara.

Em São Paulo, alguns meses depois, outro grupo metralhou na frente de sua família um capitão do Exército norte-americano, julgando-o, sem provas, agente da CIA e torturador. No final do ano, um discurso idiota e infantil de um deputado oposicionista serviu de pretexto para o fechamento do Congresso e a decretação do AI-5, o famigerado Ato Institucional Número 5.

Nos anos seguintes, os atentados terroristas da esquerda se multiplicaram, assim como a tortura, resultando no mito de que os militantes da esquerda armada eram lutadores contra o "autoritarismo" e a favor da democracia. Até hoje os sobreviventes da luta armada do período apresentam-se como tais, não raro apelando para suas credenciais de ex-torturados e supostos ex-combatentes da liberdade para justificar mensalões e dossiês.

Também na área da mudança comportamental, os efeitos de 68 trazem um inconfundível sabor de farsa. A apologia do "amor-livre", graças à popularização da pílula anticoncepcional, assim como das drogas como a maconha e o LSD, longe de constituírem uma celebração da liberdade, parecem, hoje em dia, simples manifestação de tendências autodestrutivas, uma espécie de tentativa de suicídio coletivo. Hoje, a liberdade sexual deu lugar ao flagelo da AIDS, e a "expansão da mente" por meio de alucinógenos pregada por Timothy Leary resultou não em liberdade e autoconhecimento, mas nas batalhas entre narcotraficantes e polícia nas favelas cariocas.

Outros movimentos fortes na época, como o feminismo e a luta pelos direitos civis dos negros nos EUA, ensejaram não a tolerância, mas cretinices como o sistema de cotas e a moda totalitária do politicamente correto, com sua novilíngua.

No campo das idéias, a década de 60 também deixou um rastro de destruição em seu caminho. Assistiu-se, desde então, ao triunfo do relativismo, mediante a onda "desconstrucionista" e "pós-moderna", embalada pelas teorias de Marcuse e da Escola de Frankfurt, que buscavam injetar vida nova no velho marxismo. A conseqüência desse gigantesco exercício de desconstrução mental foi a produção de uma vasta literatura desbancando as certezas da moral e da ética - tidas como meros "preconceitos burgueses" - e a implantação, em lugar destas, de uma visão de mundo relativista, que rapidamente descambou para o niilismo.

Em um mundo onde não se poderia mais ter certeza sobre nenhum assunto, a "desconstrução" tornou-se a nova palavra de ordem. Daí para a justificação de fenômenos como o terrorismo ("uma manifestação legítima de resistência contra a opressão colonial e capitalista") foi um pulo. De certo modo, pode-se traçar uma linha entre 1968 e Bin Laden.

Mas, acima de tudo, 68 foi o ano do surgimento, ou pelo menos da entronização no insconsciente coletivo, do "jovem". Este tornou-se, desde então, uma figura verdadeiramente totêmica, objeto de culto e de veneração respeitosa, acima do bem e do mal. Como reposítório das "idéias novas" de então, tudo passou a ser-lhe permitido. Nunca, em toda a História, a imaturidade foi tão louvada. "Não confie em ninguém com mais de 30 anos", tornou-se moda dizer.

O resultado foi o surgimento de uma geração de adultos imaturos e despreparados, eternos adolescentes, incapazes de encarar a vida de forma serena e minimamente responsável. Seus filhos e netos, atingidos de irrestível nostalgia por aquilo que não viveram, se encarregaram de manter acesa a chama da religião meia-oito.

Enfim, 1968 passará à História não como o ano da liberdade, mas do flerte com o totalitarismo. Não o ano do surgimento de uma nova geração, mais consciente e politizada, mas de uma multidão de palermas e zumbis ideológicos. Muito mais importante, do ponto de vista político, foi 1989, a meu ver este sim o ano que não terminou. Não apenas porque, tendo nascido em 1974, pude presenciar, ao vivo e a cores, os acontecimentos desta última data, ao contrário daquela, que só existe para mim em livros e documentários em preto-em-branco. Mas principalmente porque, ao contrário de 1968, 1989 foi uma data verdadeiramente libertária, em que os ventos da mudança realmente sopraram em vários países, levando consigo o regime totalitário mais odioso da História.

Infelizmente, esse processo ainda não se completou, abortado em nosso continente pelos remanescentes de 1968, que insistem em restabelecer, na América Latina, o que se perdeu no Leste Europeu. O ano de 1989 ainda não terminou. O de 1968 precisa acabar.

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P.S.: Para mim, o legado de 1968 é como o Fusquinha da foto (aliás, ano 68): até simpático, mas caindo pelas tabelas, e dificilmente vai te levar muito longe...

Um novo filme sobre os laços nazi-soviéticos

Ter sua efígie queimada nas ruas de Moscou por gorilas nacionalistas deve contar como uma espécie de Oscar caso você seja um cineasta letão cujo objetivo é expor a cegueira da Rússia moderna em relação à história criminosa da União Soviética. A ira do protesto organizado semana passada pelo grupo Jovem Rússia em frente à embaixada da Letônia era dirigida contra Edvins Snore, cujo filme “História Soviética” é o mais poderoso antídoto já produzido contra a tentativa de se criar um passado asséptico.

O filme é emocionante, audacioso e nem um pouco condescendente. Embora comece narrando a história do assassinato de 7 milhões de ucranianos em 1933, ele não é um mero catálogo de atrocidades. O principal objetivo do filme é mostrar as conexões íntimas – filosóficas, políticas e organizacionais – entre os sistemas nazista e soviético.

Conforme Françoise Thom (uma dos muitos luminares anti-comunistas que aparecem no filme) explica: “O Nazismo baseava-se na falsa biologia; o Marxismo baseava-se na falsa sociologia”. O sonho marxista do “homem novo”, por exemplo, espelhava a idéia nazista da superioridade racial. Os nazistas matavam principalmente com base em fundamentos raciais, enquanto os soviéticos matavam com base na classe social. Mas assassinato em massa é assassinato em massa.

Aqueles que ainda mantém uma certa queda pelo marxismo podem levar um susto ao ouvir que o sábio de Highgate referiu-se às sociedades menos desenvolvidas como Völkerabfälle (lixo racial) que deve “perecer no holocausto revolucionário”. Ou que o Partido Nazista, em seus primórdios, idolatrava Lênin (Joseph Goebbels disse que ele só perdia para Hitler em grandeza).

Aquela que talvez seja a melhor seqüência do filme mostra pares de pôsteres com desenhos praticamente idênticos: trabalhadores musculosos em poses heróicas apóiam o Partido e o Estado, menininhas louras sorriem alegremente, punhos esmagam inimigos, martelos arrebentam correntes. Sem a suástica e a foice e o martelo, seria dificílimo saber qual é qual.

A demonstração do Pacto Molotov-Ribbentrop é convincente: operadores de rádio soviéticos guiaram os bombardeiros alemães em seus ataques à Polônia. Uma base naval soviética perto de Murmansk auxiliou o ataque nazista à Noruega. A polícia secreta soviética ajudou a treinar a Gestapo e discutiu sobre como lidar com a “questão judaica” na Polônia ocupada.

A cooperação baseava-se num acordo escrito – completo com a assinatura de Lavrenty Beria, chefe da notória NKVD – que é mostrado no filme. “A NKVD proporá ao governo soviético um programa para reduzir a participação de judeus nos órgãos de estado e para proibir judeus e descendentes judeus de casamentos mistos nas áreas de cultura e educação”, lê-se na tétrica frase final. A Rússia alega que o documento é falso.

Imagens de arquivo bastante fortes mostram oficiais do Exército Vermelho brindando com seus colegas da SS em Berlim no mês de dezembro de 1939. Em 1940, a União Soviética tornara-se uma gigantesca fornecedora de grãos e petróleo para a máquina de guerra nazista, ao mesmo tempo em que encorajava os partidos comunistas da Europa Ocidental a sabotar a resistência antinazista.

“É reconfortante ver trabalhadores parisienses conversando com soldados alemães como amigos”, gabava-se uma publicação comunista francesa em julho de 1940. Vyacheslav Molotov, que era então o Ministro do Exterior da União Soviética, chamou a luta contra o Nazismo de “crime”. Junto a pronunciamentos similares, isso foi publicado em todos os jornais soviéticos. Essas páginas foram rapidamente removidas após a traição de Hitler.

Algo muito semelhante aconteceu no Ocidente. Criminosos de guerra nazistas são abominados; seus similares soviéticos são considerados honrados veteranos até hoje. Qualquer tentativa de trazê-los à justiça desperta protestos raivosos da Rússia. “Tirem as mãos dos nossos avôs”, era o slogan cantado pelos militantes da Jovem Rússia. Uma questão melhor seria: “O que aconteceu exatamente?”

O Sr. Snore e seus patrocinadores no Parlamento Europeu produziram uma obra agudamente provocativa. Seu tom, sua técnica e sua composição estão abertos a críticas. Mas aqueles que querem bani-lo deveriam tentar refutá-lo antes.

http://nemersonlavoura.blogspot.com/2008/05/gmeos-totalitrios.html