quarta-feira, 11 de junho de 2008

Batendo na cangalha do(s) burro(s)


Meu pai dizia a expressão “Batendo na cangalha”, referindo-se ao gesto ou meias-palavras de pessoas que davam o recado de maneira não totalmente direta, mas através destes sinais, numa alusão ao carroceiro que bate na cangalha do seu animal de tração (geralmente um burro de carga) para dar uma ordem, mas sem vocalizá-la. Apesar de ruidosos, foi este o âmago dos protestos dos tais “movimentos sociais” em 11 estados no mês de junho.

Cito apenas algumas particularidades. Houveram protestos no RS contra o eucalipto. A demanda por madeira continua alta, seja in natura, seja pelos subprodutos como a celulose. De modo que quem quer preservar a Amazônia e florestas naturais, presta um grande desserviço ao meio ambiente em ser contra a silvicultura comercial.

Também interessante foi o protesto no Nordeste. Destruíram um laboratório de pesquisa com cana-de-acúcar. Quem conhece os canaviais do sudeste e centro-oeste do país, sabe que boa parte da mão-de-obra vem de nordestinos egressos da terra natal em busca de emprego e renda. Porque então lutar contra esta cultura, na própria terra dos trabalhadores?

Sim, há os velhos conceitos anticapitalistas nos protestos. “Contra a monocultura.”, “Contra a concentração fundiária.”, etc, etc. É o velho ranço do subdesenvolvimento intelectual arraigado no meio acadêmico e ungido por setores da Igreja Católica. Enquanto não respondermos à altura os argumentos destes senhores, teremos que conviver com eles. Ou então que nos unamos a eles e estendamos os protestos a mais setores!

Que tal sermos contra a monocultura das montadoras de automóveis, que só sabem fazer veículos automotivos? Talvez as grandes redes varejistas também deveriam ser criticadas. Pior é a concentração de computadores que utilizam o Windows. Abaixo todos eles!
Só não sei o que dizer aos usuários de automóveis (sejam populares ou de luxo), aos que compram no crediário em lojas populares e aos crescentes usuários de computador no país.

Quem se opõe ferrenhamente ao desenvolvimento natural das atividades econômicas, seja no campo ou na cidade, não está ajudando em nada a minorar os problemas sociais, pelo contrário, contribui para mais atraso e exclusão social. É o que fazem a maior parte destes tais movimentos sociais.

No meio das lideranças dos tais movimentos (anti) sociais, há os ideologistas, sim, mas há mais os oportunistas que fizeram daquilo um meio de vida. É a estes que escrevi o título do artigo.

Nunca antes na história deste país houve tanto dinheiro passeando na mão de ONGs e dos tais movimentos (anti) sociais. As ações conjuntas deles atrapalham, mas não irão colapsar o sistema capitalista, o bode expiatório para todos os males do Universo. Boa parte deles sabe disso. Mas seguem piqueteando e mandando seu recado codificado ao governo:

“Estamos aqui. É ano de eleição e queremos dinheiro. Observem bem, há muitos votos na nossa mão!”

E o governo? Bom, este põe a polícia para funcionar e os manifestantes após terem dado o recado saem de cena. Ninguém é responsabilizado pelos danos e prejuízos causados. O recado é entendido pelo burro de carga e este segue mandando dinheiro e esperando os votos dos movimentos (anti) sociais.

Mas eu pergunto: o burro de carga nesta história é o governo, ou quem financia o governo pagando os impostos?
Publicado pelo Correio do Estado em 13/06/08