segunda-feira, 6 de julho de 2009

Eu fui um fiscal do Sarney!


“A política é supostamente a segunda profissão mais antiga. Eu acabei notando que ela possui próxima semelhança com a primeira.” (Ronald Reagan)

Lá estava eu do alto dos meus nove anos de idade, chegando na fila para comprar leite, e que fila! Preocupado, vi que depois de mim vieram poucas pessoas. Esperamos o leite chegar e só aí a fila começou a andar, depois de um tempo a notícia: “Acabou o leite.”. Voltei para casa chorando e acho que por causa disso meu pai nunca mais me mandou ir à padaria.

Estávamos em época de inflação naquele ano de 1986, o plano cruzado com seu congelamento de preços era a esperança de domar o dragão que fazia os preços subirem todos os dias. Já entendendo alguma coisa do mundo que me cercava, enchi-me de orgulho com o presidente José Sarney que conclamava todos os brasileiros para sermos fiscais contra o aumento de preços desenfreado. Com vontade política e espírito de união venceríamos!

Bom, o que aconteceu foi o que eu descrevi no primeiro parágrafo: escassez de produtos. Depois, um mercado negro começou a se delinear e, por fim, o congelamento de preços foi por água abaixo. Só muito tempo depois fui entender que um plano socialistóide intervencionista como aquele só poderia resultar no que aconteceu mesmo.

Falando nisso comemoramos recentemente 15 anos de plano Real. O que causava a inflação? A impressão de papel-moeda desenfreada do governo que, ineficiente, tinha que cobrir seus custos, em muito agravados pelo contingente de paquidermes estatais oriundas do governo militar. A carga tributária era relativamente baixa, menos de 20% do PIB. Como o governo não conseguia se sustentar com os impostos, apelava para a expansão monetária, causando inflação, o pior imposto para os mais pobres.

A oferta de crédito é outro fator causador de inflação, mas a expansão monetária é de longe o principal.

O plano Real basicamente consistiu em não se fabricar papel-moeda a esmo e no equilíbrio de fluxo de caixa do governo que vendeu suas empresas ineficientes (nas satanizadas privatizações) e apelou para um aumento de impostos para cobrir seus gastos. Hoje quase 40% do PIB é do governo. A inflação foi controlada, não houve mais escassez de produtos e eu não chorei mais.

Ah, sim, eu me lembro de uma mulher que chorou de emoção por ocasião do lançamento do plano cruzado (o do congelamento de preços), era a economista Maria da Conceição Tavares. Anos depois ela se elegeu deputada federal pelo PT. Observa-se que José Sarney e o PT já tinham coisas em comum há muito tempo.

Há um livro do Sarney chamado “A onda liberal na hora da verdade” que é uma coletânea de artigos, em geral criticando o “neoliberalismo”. O economista austríaco Ludwig von Mises disse: “O liberalismo tem a honra de ser a doutrina mais odiada por Hitler.”. Já eu digo: “O liberalismo tem a honra de ser a doutrina mais odiada por José Sarney... e também pelos petistas!”.


Tivesse Sarney lido um pequeno livro de Mises, chamado “As seis lições”, ou apenas o capítulo de 15 páginas que fala sobre inflação, o Brasil não teria passado pelo desastre inflacionário e nem Sarney ficaria falando bobagens sobre o que ele não conhece.

O slogan de José Sarney naquela época: “Tudo pelo social.”, não podia ter sido mais falso pelas conseqüências do seu governo. A inflação foi a maior causadora do aumento da desigualdade social no país. Havia os com-poupança que conseguiam se proteger um pouco com a ciranda financeira dos bancos; e os sem-poupança, que viam o dinheiro quase virar pó em suas mãos.

Eu não culpo José Sarney por ele ser o que ele é. Eu culpo seus eleitores. E acredito que eles sejam da classe A, B, C, D, Z, enfim de qualquer letra. Mas defendo a democracia representativa e suas instituições. E se um político eleito pelo voto popular não se revelar digno do cargo que ocupa, a destituição é o que lhe cabe, assim como medidas punitivas também.

Sai daí, Sarney. Não me faça chorar de raiva novamente.