terça-feira, 31 de maio de 2011

O campo das idéias e a realidade - (Aviso: os links de textos estão funcionando!)

Dia desses uma moça me falou: “É, mas isso só funciona no campo das idéias”. Tenho certeza que foi em virtude de constar neste blog a epígrafe de Ludwig von Mises, e da moça em questão ter mostrado meu blog pro namoradinho dela na época (ele é que deve ter dito que eu vivo com a cabeça no campo das idéias).

Pois bem, será que isso é mesmo verdade, seria o campo das idéias algo sem utilidade prática, apenas um local de divagação inócua? Escrevo estas linhas por alguns assuntos que quero abordar.

Maílson da Nóbrega escreveu um artigo recentemente intitulado “A reforma agrária perdeu o encanto”. http://www.anovasustentabilidade.com/anova_noticias.php?id=175

O artigo é muito bom, mas traz alguns equívocos. O pior para mim é o final:

“ Aqui, todavia, a reforma ainda se nutre de argumentos de seis décadas atrás. O MST neles insiste por instinto de sobrevivência, pois precisa salvaguardar seu objetivo básico, que é o de mudar radicalmente a sociedade e fazê-la adotar um socialismo do tipo soviético.”

Ora, pode até haver uns celerados (ou porraloucas) no MST, mas o que o grosso deles quer não é socialismo soviético não, é grana, eles querem verdinhas. Se a reforma agrária parar como eles vão poder desviar dinheiro e enriquecer? A ideologia é mero disfarce para a sem-vergonhice. Quando comparam a agricultura familiar (a verdadeira) dizendo que é a mesma coisa que reforma agrária, tenho náuseas.

Mas o que tem isso com o campo das idéias? Tem que a população apoiou a reforma agrária, a opinião publica foi manipulada por professores (neomarxistas ou não) com uma visão anacrônica da sociedade, a imprensa também fez sua parte. O resultado é um tremendo prejuízo para a sociedade que você que está lendo aí está pagando sem se dar conta.

Agora vejam esta foto de reportagem recente da revista VEJA:

Pois é, agradeçam aos antropólogos, ONGs e adjacências por isso. A demarcação de raposa serra do sol não fez com que os índios voltassem ao seu estado natural de bons selvagens felizes e em harmonia com a mãe-natureza, isso é balela, coisa de diretor de cinema que vive no luxo de Hollywood e faz um blockbuster de milhões (Avatar), ou coisa de quem não conhece a realidade, mas que impôs o seu campo das idéias equivocado ao restante da sociedade.

Para saber mais leiam: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/raposa-serra-do-sol-%E2%80%93-os-miseraveis-que-o-stf-criou-com-a-antropologia-poetica-de-ayres-britto-nao-foi-falta-de-aviso/

O desastre de raposa serra do sol nasceu em bancas universitárias, no campo das idéias. Nesse caso, eu também percebia o interesse pelo dinheiro advindo dos arrozais. O interesse dos índios que queriam tornar aquelas áreas em reserva indígena era o de simplesmente poder cobrar arrendamento pelo uso da terra que estava nas mãos dos fazendeiros, e seria muito dinheiro. Até tentaram, mas a Funai não permitiu.

Também temos agora a reforma do código florestal, que só não é defendida por quem não conhece a realidade e se ampara em idéias equivocadas aliadas, muitas vezes, com interesses escusos.

Victor Hugo escreveu que “nada neste mundo é tão poderoso como uma idéia cuja hora é chegada”. Já Edmund Burke escreveu:"Mude as idéias e você poderá mudar o curso da história." http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2008/06/batalha-das-idias.html

Foram idéias que geraram o comunismo, matando mais de 100 milhões de pessoas. Foram idéias que geraram o nazismo, matando menos, mas também na cifra de milhões de vidas, São idéias que guiam nossa sociedade, por mais que haja escolha e adaptações individuais, é o campo das idéias que direciona se um povo vai prosperar ou não.

Por último deixo um trecho de um brilhante texto de Mises, do seu livro As seis lições, de onde tirei a epígrafe do blog.


As idéias intervencionistas, as idéias socialistas, as idéias inflacionistas de nossos dias foram engendradas e formalizadas por escritores e professores. E são ensinadas nas universidades. Poder-se-ia então observar: "A situação atual é muito pior.'' Eu respondo: "Não, não é pior." É melhor, na minha opinião, porque idéias podem ser derrotadas por outras idéias. Ninguém duvidava, na época dos imperadores romanos, de que a determinação de preços máximos era uma boa política, e de que assistia ao governo o direito de adotá-la. Ninguém discutia isso.

Mas agora, quando temos escolas, professores e livros prescrevendo tais e tais caminhos, sabemos muito bem que se trata de um problema a discutir. Todas essas idéias nefastas que hoje nos afligem, que tornaram nossas políticas tão nocivas, foram elaboradas por técnicos do meio acadêmico.

Um famoso autor espanhol falou a respeito da "revolta das massas". Devemos ser muito cuidadosos no uso desse termo, porque essa revolta não foi feita pelas massas: foi feita pelos intelectuais, que, não sendo homens do povo, elaboraram doutrinas. Segundo a doutrina marxista, só os proletários têm boas idéias, e a mente proletária, sozinha, engendrou o socialismo. Todos esses autores socialistas, sem exceção, eram "burgueses", no sentido em que eles próprios, socialistas, usam o termo.

Karl Marx não teve origem proletária. Era filho de um advogado. Não precisou trabalhar para chegar à universidade. Fez seus estudos superiores do mesmo modo como o fazem hoje os filhos das famílias abastadas. Mais tarde, e pelo resto de sua vida, foi sustentado pelo amigo Friedrich Engels, que - sendo um industrial -, era do pior tipo "burguês", segundo as idéias socialistas. Na linguagem do marxismo, era um explorador.

Tudo o que ocorre na sociedade de nossos dias é fruto de idéias, sejam elas boas, sejam elas más. Faz-se necessário combater as más idéias. Devemos lutar contra tudo o que não é bom na vida pública. Devemos substituir as idéias errôneas por outras melhores, devemos refutar as doutrinas que promovem a violência sindical. É nosso dever lutar contra o confisco da propriedade, o controle de preços, a inflação e contra tantos outros males que nos assolam.

Idéias, e apenas idéias, podem iluminar a escuridão.