terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Kátia Abreu e os austríacos


Tive o prazer de ouvir recentemente a senadora Kátia Abreu (DEM – GO) numa apresentação na Famasul. A senadora é uma pessoa lúcida, que toma iniciativa em importantes debates e tenta buscar a razão em assuntos que muitos políticos preferem sair pela tangente por medo de desagradar setores organizados da sociedade ou mesmo por simples ignorância e covardia.

A desmistificação de falácias que cercam o meio rural é, portanto, uma das lutas da senadora. A importância da carne vermelha na alimentação, em especial para as crianças; a parceria entre produção de alimentos e preservação ambiental; a valorização do produtor rural, que muitas vezes é vilipendiado por deformadores de opinião, em sua maioria urbanos, e que não conhecem a realidade do campo, são constantes nas palavras da senadora.

Farei algumas observações que julgo procedentes à palestra da senadora, haja vista ela ser uma das melhores lideranças no país.

Kátia Abreu comentou que o Brasil tem uma comida barata – sim, temos umas das cestas básicas mais acessíveis do mundo –, mas deve se haver uma luta pela remuneração ao produtor, ou seja, se o produtor produz uma comida barata, mas por algum motivo obtém prejuízo, alguém deve ressarci-lo, isso é o que certos países da Europa e, em alguns casos, nos EUA, promovem. Só que isso está errado. Explico em seguida o porquê.

Preços são sinais. O lucro é obtido mediante o talento do produtor em se produzir bem, ou seja, da sua produtividade, mesmo diante de intempéries climáticas; do seu custo de produção; e do preço de venda. Se o preço do produto está barato demais e gerando prejuízo, ou a oferta é excessiva, portanto não há necessidade de tantos produtores canalizarem sua energia para aquele produto; ou simplesmente ele não é demandado, portanto o mercado – que são as milhões de pessoas que se alimentam –, não quer consumir aquele alimento produzido.

Se mesmo produzindo bem, o produtor ainda tiver prejuízo é sinal de que ele deve, ou diminuir custos ou mudar seu investimento; e se os preços não flutuarem livremente, não haverá como saber se o produto está sendo demandado ou não.

Kátia Abreu exemplificou a crise do agronegócio de 2006. O que aconteceu na época, na verdade entre 2004 a 2006, foi um enxugamento de uma bolha que aconteceu em 2002 e 2003, em virtude da forte entrada da China no mercado mundial comprando soja, e, principalmente, da disparada do dólar pela iminente eleição do PT à presidência da República, ou seja, uma interferência política na economia.

Naquela época, soja e carne subiram cerca de 50% em pouco mais de um ano, sendo que nos anos seqüentes os preços abaixaram, até que em 2006 atingiram o fundo do poço. Os produtores que investiram no negócio tiveram que brecar ou mudar os investimentos. Posteriormente a 2006 houve uma elevação dos preços a patamares satisfatórios.

A senadora ainda discorreu sobre um grande produtor que tinha o custo de produção da caixa de laranja em 3 dólares, enquanto seu vizinho, menor, possuía um custo de 5 dólares, em virtude da menor escala e do menor poder de barganha. Ora, nada mais do que normal. A produção em massa sempre favoreceu a diminuição do preço final.

Ninguém vai ao supermercado perguntar quanto foi o custo de produção do arroz, da laranja, da carne, do leite, etc. As pessoas fazem suas escolhas baseadas no preço e qualidade. Em geral a população de baixa renda prefere o quesito “preço”, sendo que quem produz em larga escala vai poder baratear mais o alimento. Por isso o economista austríaco Ludwig von Mises disse que o capitalismo é a “ditadura dos consumidores” e favorecia as classes baixas da sociedade.

A própria senadora matou a questão ao dizer que, para sua surpresa, o dono de uma grande montadora de máquinas agrícolas disse a ela que o ano havia sido excepcional em vendas. O que aconteceu é que os produtores mais eficientes e de maior escala estavam arrendando as terras de produtores menores ou menos eficientes. Isso é ótimo, há um ganho de escala e a produção rural está sendo dirigida aos mais competentes.

Os consumidores ganham com isso, pois vão ter produtos mais baratos; os produtores também poderão aumentar seus lucros pela maior escala; e aqueles produtores que arrendaram suas terras poderão se capitalizar para outra atividade (sendo que muitos já têm outras atividades mesmo). É uma espécie de “destruição criadora” – termo cunhado pelo austríaco Joseph Schumpeter, designando às mudanças dos sistemas de produção capitalista – para estes proprietários rurais.

O arrendamento de terras foi algo proibido na Alemanha nacional-socialista de Hitler. Mises já havia dito: “O liberalismo tem a honra de ser a doutrina mais odiada por Hitler”. É, eu acho que ele estava certo.

Portanto não há necessidade de intervenção governamental na produção rural. Seguros agrícolas, fixação de preços na bolsa de valores e demais artifícios para diminuir os riscos inerentes à produção rural, não precisam passar pelo crivo do governo. O governo, com raras exceções, tem ao longo dos anos atrapalhado a vida dos consumidores de alimentos, ou em último caso, tornado mais pesado o fardo dos pagadores de impostos que nem se dão conta das causas disso.