quarta-feira, 9 de julho de 2008

Capitalismo e contracultura


Um dos movimentos de contracultura que mais me afeiçoei foi o movimento punk, que teve sua gênese nos anos 70. O som dos americanos Stooges, MC5 e, principalmente, Ramones, lançaram as bases do que seria mais tarde esculpido e transformado numa estética completa na Inglaterra, a partir de bandas como Sex Pistols e The Clash.

Não foi à toa que o ambiente de propagação tenha sido lá. O país estava numa crise econômica e social, o desemprego tinha altos níveis, principalmente entre os jovens. Os proletários suburbanos não tinham perspectivas de dias melhores. Eram os excluídos do Welfare State, que finalmente tinha se mostrado uma armadilha de longo prazo.

“Do it yourself!”, ou “Faça você mesmo!”, era o lema do movimento. Ou seja, não espere por ninguém, principalmente em se tratando de governo ou Estado. A atitude valia mais que a formação técnica para qualquer coisa. Por isso mesmo as canções não possuíam mais do que três acordes. Era um som básico.

O movimento teve uma ideologia anarquista. Curiosamente no Brasil, o punk, pela sua crítica contra o sistema - que sempre é remetido como capitalista, independente dos nuances - flertou com o socialismo, principalmente pela banda Garotos Podres. Embora “Anarquia, Oi!” seja um grande hit da banda, o vocalista, que se formou em História, declara-se socialista.

Mas Anarquia e Socialismo são antagônicos e a exemplo do que acontecera no passado, nas desavenças entre o socialista Marx com o anarquista Bakunin, culminando na expulsão dos anarquistas da Internacional Socialista, o caminho do punk seguiu outro rumo. As diminuições dos tentáculos do Estado aproximam liberais e anarquistas.

No âmbito político-econômico, e consequentemente social, foi Margaret Thatcher, uma discípula dos liberais austríacos, quem deu a melhor resposta. Suas ações destruíram a cidadela construída pelo corporativismo sindical e desobstacularam a Economia e o acesso ao emprego. A Inglaterra chegou nos anos 90 como pólo mundial de atração de mão-de-obra. Os jovens ingleses não vagavam mais sem perspectiva de renda e de um futuro melhor.

Na música o movimento punk se diluiu, mas também se remodelou. Haviam as acusações de “traidor de movimento”, para os que como Billy Idol, tinham se lançado mais ao showbizz capitalista. Apareceram os “punks de butique”. E mesmo Johnny Rotten tentou retomar o Sex Pistols décadas depois com o declarado objetivo de ganhar dinheiro.

O punk também se desdobrou em new wave, pós-punk, gótico, hardcore, influenciou o grunge, entre outras tantas vertentes. Mas isto é outra história. Arruaceiros e desocupados que não entendem o movimento, por vezes mancham a reputação do mesmo. À estes, a Lei e a punição.

E eu? Acho que continuo um pouco punk. Do it yourself!