domingo, 14 de dezembro de 2008

Contra toda mistificação!


Colapso Mental


Por: Anselmo Heidrich

Pois é... Jared Diamond (foto) escreveu um livrão que aponta a decadência de uma das ilhas do Pacífico por sua suposta hiper-exploração de recursos naturais.Engraçado como o mesmo não aconteceu com outras centenas de ilhas daquele oceano. Estranho criar uma regra a partir da exceção...

Jared Diamond e Thor Heyerdahl criaram o mito do colapso ambiental na Ilha de Páscoa.A tese é de que a super-exploração ao desmatar a ilha os impediu de obter matéria-prima para suas canoas e pesca. Consequentemente, a fome levou a guerra civil e ao canibalismo.

Na verdade, a coisa é bem mais simples do que tudo isto...Quando os europeus descobriram a ilha em 1722, com seus navios baleeiros em busca de água e alimento, também procuravam mulheres. As DSTs se disseminaram.Mais tarde, em 1805, a escuna americana Nancy raptou escravos; em 1862, foi a vez do Peru.

Após protestos internacionais, 100 sobreviventes foram repatriados e com eles, vieram a varíola e a maioria dos nativos morreu.Em 1870, europeus forçaram os nativos a entrar nos navios queimando suas plantações.

O Chile colocou os poucos nativos remanescentes num campo de concentração em 1888, após a anexação da ilha.Quando os holandeses aportaram por ali, em 1722, as choças nativas estavam cobertas com folhas de palmeira. Como, se não havia mais árvores no século XV, segundo Diamond?Embora Diamond diga que havia trimoras (árvores locais) no século XV, para construção de pequenas canoas, as estátuas ainda eram transportadas no século XIX.

Neste mesmo século houve epidemia de sarampo, o que não impedia os ilhéus de cultivarem bananas, batatas e cana-de-açúcar. A ilha ainda tinha lagos com solos ricos nas margens que nunca foram cultivados.

Ah... Mas, não tinham canoas para a pesca! O oficial da marinha americana W. S. Thomson que viveu por lá em 1890 relatou que as lagoas eram repletas de lagostas e caranguejos. Nas praias havia tartarugas marinhas, ou seja, ovos e carne. Entre os artefatos dos locais havia anzóis de pedra e osso, redes de pesca de amoreiras...

Adotavam as temporadas de pesca para evitar a pesca predatória.Nunca foi provada a existência de 3.000 ilhéus, como diz Diamond. E as guerras eram rotina, com ou sem fome.A única “prova” de canibalismo foi dada pelos missionários que precisavam arranjar uma boa justificativa para “salva-los da degradação”.

O “eco-colapso” de Diamond é história pra boi dormir quando sabemos que, de concreto, houve escravidão, sífilis, varíola, campos de concentração todos documentados.O problema da ilha nunca foi ecológico, mas puramente econômico.

Comento:
Lembram-se que escrevi um artigo chamado Rapa Nui, sobre a ilha de Páscoa e convergi para nossa questão indígena? Até então conhecia apenas a versão de Diamond que foi revertida em película pelo filme homônimo ao meu artigo.
Como penso que uma "função"da blogosfera vem sendo a desmistificação de uns conceitos massificados, então me deparei fazendo algo contrário ao que queria.
Agradeço ao Anselmo Heidrich por ter me alertado ao fato de Rapa Nui ter sido alvo de uma mistificação.
Diamond com sua teoria quis fazer um alerta ao próprio homem moderno: "Cuidem do planeta. Preservem os recursos naturais para a sociedade não ruir." Para ele Rapa Nui era o planeta Terra e nós éramos os aborígenes locais.
Diamond poderia pregar um desenvolvimento sustentável, mas sem proceder inverdades e deturpações que no fim só gerariam um sentimento anticapitalista e anti-progressso.
O cientista deu lugar ao pregador messiânico e cuspiu na ciência e na verdade. Isto que ocorreu foi uma forçação de barra de Diamond.
Contudo, no meu artigo, não acho que minha idéia central foi minada. Acho que o sistema de produção moderno permitiu nosso crecimento populacional e que continuamente temos que buscar um desenvolvimento sustentável.
Defender apenas o extrativismo coletor das antigas sociedades tribais seria uma opção, mas antes de tudo seria uma opção de morte para boa parte da humanidade. É só escolher. De que lado ficam os humanistas?