sábado, 27 de novembro de 2010

Retomando. Ayn Rand et al






Comentei sobre "A Revolta de Atlas" o livro de Ayn Rand que foi relançado no Brasil. A obra é ótima e instigante, estou lendo o segundo volume (são três) e recomendo a todos. Vou comentar rapidamente e, talvez, dar uma "queimada" em Rand, sem isso de forma alguma desmerecer sua obra.

Li no Mises Institute e mais tarde assisti no site deles, uma palestra do Lew Rockwell que falava sobre uma passagem da vida de Murray Rothbard, provavelmente o aluno mais brilhante de Ludwig von Mises. Rothbard era ateu, mas sua esposa era muito religiosa. Por um tempo eles frequentaram o círculo de convivência de Ayn Rand - no livro "A volta do idiota" de Llosa filho e amigos, eles relatam que a autora russa-americana constituiu um séquito de amigos e discípulos que poderia se assemelhar com uma seita; Lew Rockwell apenas chama este círculo social de "panelinha de Ayn Rand".

Pois bem, quando Rand (também atéia) descobriu que a esposa de Rothbard era uma religiosa fervorosa ( se não me engano católica), ela se horrorizou e queria que Rothbard se separasse de sua esposa. Rothbard se afastou do convívio de Rand e demais do seu grupo. Para mim, a escritora traiu sua própria doutrina.

Muitos conservadores não gostam dela e do seu "objetivismo" fazendo uma crítica algo simplista, mas que nao deixa de ser verdadeira. Tipo: "para atender apenas seus próprios interesses, se for preciso, interne seus pais idosos num asilo, separe-se de seu conjuge doente, abandone as amizades que nao proporcionem vantagens". Faço uma ressalva: não conheço a fundo a obra de Rand, portanto não sei se esta crítica moral da conduta "objetivista" procede. Em "A revolta de Atlas" o protagonista Hank Rearden - até o momento do livro onde estou - não demonstrou ser tão desalmado.

O ser humano é um animal social, precisamos de outras pessoas nem que for para simplesmente nos sentirmos bem, ter com quem conversar, tomarmos um tereré, etc. Outra coisa, o liberalismo propõe liberdade e tolerância, a manutenção da sociedade aberta e da convivência pacífica entre seus habitantes, de forma que Rand, indubitavelmente, interferiu na vida particular e na liberdade de Rothbard, sem motivo que valesse, afinal o economista em momento nenhum reclamava da religiosidade de sua esposa.

No fundo, acho que Rand queria ter um romance com Rothbard, e saiu com essa palhaçada. Mas é até engraçado, uma atéia com preconceito de uma religiosa.

Disso tudo ainda há outra lição liberal: seres humanos são imperfeitos e falíveis, mesmo em se tratando de uma escritora genial como Ayn Rand.