domingo, 10 de fevereiro de 2008

Algozes de si mesmos

Por: José Pessoa Generoso (texto muito interessante recebido por e-mail)

Enquanto a sociedade não se desvencilhar das amarras do politicamente correto e de um desvio ideológico construído por décadas, ela será alvo de si mesma. Difícil compreender? Vou dar um só exemplo para a questão.

Os fatos:

Tivemos há algumas semanas atrás bloqueios em rodovias do MS por parte de integrantes do MST. Eram contrários à troca do presidente do INCRA, Luiz Carlos Bonelli, que está sob graves acusações de desvio de dinheiro público. As lideranças do MST alegam que o processo de assentamento irá atrasar com a mudança no INCRA. O senador Valter Pereira está indicando para o cargo o professor Flodoaldo Alencar, notório participante de organizações cooperativistas.

Algumas perguntas e respostas óbvias:

Alguém já viu algum produtor rural fazendo piquete pela mudança do ministro da agricultura? Nunca.
Eles queriam terra, financiamento ou assistência técnica? De maneira nenhuma, simplesmente protestando contra a troca de um cargo que está sendo ocupado por uma pessoa no mínimo suspeita.
Isto é motivo para infringir o direito de ir e vir dos cidadãos que trafegam nas rodovias? Penso que não.
Um chefe de órgão público que está com graves acusações de desvio de dinheiro deve ser mantido no cargo, seguindo no comando das verbas? Espero que não.
O médico veterinário e professor Flodoaldo Alencar, que é especialista em cooperativismo, tem credenciais para assumir o INCRA? Todas. A reforma agrária deveria ter sido feita desde o início por técnicos e pessoas da área rural e não por oportunistas ou malucos ideológicos.
O processo de assentamento será atrasado por isso? Penso que não. E se este atraso representar menos desvio (leia-se “roubo”) de dinheiro público, então ele será necessário.

Então vamos ao filtro:

As lideranças do MST têm uma estreita ligação com alguns chefes do INCRA. É através do INCRA que se procedem as desapropriações, indenizações aos proprietários rurais e todo dinheiro canalizado para reforma agrária. Um presidente que não faça parte da turminha dessas lideranças dificilmente vai facilitar algum tipo de desvio de recurso.

Já houve algum desvio da reforma agrária? Na CPMI da Terra, que talvez não tenha sido tão noticiada haja vista a quantidade de CPIs que tivemos nos últimos anos, (procurem na Internet o artigo “Podridão agrária” de Xico Graziano), falava-se em somas milionárias. 41 milhões por um ralo, 18 milhões por outro e por aí vai. São assombrosos os valores que saíram do erário público e misteriosamente sumiram no caminho.

O que estas lideranças que vislumbram um rio de dinheiro via INCRA então fazem quando se sentem ameaçadas? Mobilizam a massa ignara às estradas. De duas formas: ou influenciam incutindo insegurança quanto à obtenção dos lotes ou simplesmente chantageiam os que lá não forem protestar. No atual caso do MS até o recurso das cestas básicas estava sendo usado como meio de manipular as pessoas. Tal fato é, no mínimo, um descalabro.

Aí entra a minha afirmativa do primeiro parágrafo: A opinião pública em geral, mesmo cansada dos diversos atos do MST, ainda pensa em se tratar de algo justo e procedente, por ainda considerar que os sem-terra são pobres trabalhadores rurais lutando por melhores condições. Não percebem que estão sendo vítimas de uma grossa picaretagem capitaneada por alguns espertalhões que usam uma massa de manobra que, na amplitude das pessoas cadastradas, muito pouco tem de trabalhador rural.

No fim acabam endossando um golpe no qual as vítimas são elas próprias, via impostos, é claro. Ou o dinheiro público para reforma agrária tem outra origem?

A reforma agrária não é mais necessária. Os verdadeiros sem-terra já foram assentados há muito tempo. Um “sem-terra” hoje é como um “sem-fábrica”, um “sem-padaria”, um “sem-apartamento na praia”, e por aí vai. Ou seja, qualquer um pode se classificar como um “sem-alguma coisa” e isto não é mais do que normal.

Há sim os “sem-emprego” ou “sem-renda”. Pessoas pobres que, iludidas, se encaminham para os barracos de lona; e os “sem-vergonha”, as lideranças que se utilizam dessa massa de manobra para auferirem dividendos. O modelo de reforma agrária que aí está apenas condena os “sem-emprego” a se manterem na miséria e na dependência estatal.

Há ainda um bom número de pequenos oportunistas que possuem renda e moradia, mas engrossam as fileiras do movimento simplesmente no intuito de pegar cestas básicas e de conseguir um lote para em seguida comercializá-lo ou até trocá-lo por qualquer coisa. Vale até carro velho ou casa na cidade.

O associativismo e o cooperativismo conduzidos por pessoas sérias, com aptidão rural e em parceria com o agronegócio seriam opções sensatas para a viabilidade econômica dos assentamentos.

O Brasil fez a maior reforma agrária do mundo. Já foram distribuídos, desde o governo Sarney, perto de 70 milhões de hectares. É uma área equivalente aos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina juntos e ainda sobra mais ou menos um meio Mato Grosso do Sul de fora.

Somente nos 8 anos do governo FHC o gasto orçamentário do INCRA chegou, em valores atualizados, a 20 bilhões (isto mesmo, bilhões!) de reais. Os resultados em termos de produtividade e emancipação das famílias assentadas como todos sabem são pífios.

Não é pecado almejar um pedaço de terra para si. Acontece que este movimento que encabeça isso já provocou conflitos e achaques demais à República e aos cofres públicos para ficar impune e ainda posar de bem-feitor social.

Eu que cresci em casa de BNH, nunca vi meu pai promover invasão ou fazer piquetes enquanto esperava sua casa. Vi sim ele pagar religiosamente suas prestações da casa própria, fato que muitas vezes não se dá com os assentados.

Que se abram linhas de crédito em algum Banco da Terra para aquisição de lotes rurais conjuntos, mas que não se permitam os ataques à democracia, ao Estado de direito e, sobretudo, aos cofres públicos por essa horda de falsos líderes que dissimuladamente advogam em causa própria.

A bem pensar, ostentam o vermelho socialista nas bandeiras, mas nos recônditos dos seus lares preferem mesmo o verde, não o dos campos, mas sim o das cédulas.

Links úteis:

http://www.xicograziano.com.br/novo/artigos_detalhe.asp?IdArtigos=82

http://www.xicograziano.com.br/novo/materia_detalhe.asp?IdConteudo=5

http://www.midiamax.com/view.php?mat_id=312825