terça-feira, 23 de setembro de 2008

Diálogo e soluções


"Trabalhamos muito com antropólogos, mas a idéia que eles têm é diferente. Querem preservar nossa cultura, mas põem obstáculos à nossa evolução. Também queremos integração e a possibilidade de produzir. Se outro cacique viesse aqui, diria a mesma coisa".

Este foi o líder xavante Domingo Mohoro, do Mato Grosso, em reunião com a FAMATO no Mato Grosso. Observamos que os índios não pensam como os antropólogos, que vêem a ampliação de terras como o único meio dos índios prosperarem.

Que o diga o indígena Rodolfo Ricartes, de Amambai, que pediu apoio à produção agrícola na sua aldeia que tem 60% da área improdutiva. Dou os meus parabéns a Ricartes e peço que os produtores de Amambai o apóiem nesse intento e mesmo protejam a vida de Ricartes que foi ameaçado de morte por não compactuar com invasões de terra.

Getúlio Juca de Oliveira, cacique Kaiowá de Dourados reclama que as demarcações têm que ser discutidas entre indígenas, governo e justiça. Concordo com ele e acrescento que os produtores também devem estar juntos.

James Anaya, consultor da ONU, corroborou a legitimidade de propriedade dos produtores rurais da região sul, mas, sobretudo, observou que há falta de diálogo entre as partes. Também concordo com ele.

Os produtores rurais devem fazer um mea culpa. Há quanto tempo morrem índios de suicídio, assassinatos, etc., e pouco ou nada se ouviu da classe rural sobre o assunto. O que acontecia então? Alguns "entendidos" falavam que era falta de terra para os índios. Mentira, não é simplesmente isso. Mas nada de sério se ouvia dos produtores e a falácia prosperava.

A situação se arrastou e teve que se chegar num certo ápice. Em fevereiro índios e representantes pressionaram Márcio Meira, o chefe da Funai, para que se ocorresse demarcações no estado. Foram muitos suicídios em 2007, em fevereiro de 2008 pai e filho se mataram simultaneamente numa comunidade nhandeva que não tinha histórico de suicídios.

O resultado é este impasse que aí está.

Os índios também têm que assumir suas responsabilidades. Não há nenhuma dívida histórica para com eles. O contato entre não-índios e índios no atual Mato Grosso do Sul foi um dos mais pacíficos registrados na história da humanidade. E a vida deles antes deste contato, quando eram de fato silvícolas, não era nenhum mar de rosas como alguns românticos apregoam.

Se hoje usufruem de casas de alvenaria, luz elétrica, água encanada, alimentos empacotados prontos para uso, fogão a gás, geladeiras, roupas, remédios, vacinas e tudo mais proporcionado pela evolução que as sociedades abertas tiveram com o tempo, os índios também têm a capacidade de entrar nela sem perder suas características culturais.

Os índios do norte do país dispõem de muito mais terra. Muitos são ricos, andam de caminhonete importada, pois vendem madeira, exploram garimpo. Os guaranis daqui, por motivos históricos bem definidos, não foram agraciados por isso. Os guaicurus, atuais kadiwéus, por terem lutado na guerra do Paraguai, contam com uma área imensa, mas mesmo assim enfrentam problemas de pobreza.

Já falei em outro artigo que não acredito nas tekohas da forma que pintam. Para mim elas escondem de um lado o ódio que certos grupos têm do agronegócio, e de outro, o desejo dos indígenas em continuarem perto do asfalto, luz elétrica e de todo recurso que há perto de onde moram atualmente.

Não sou contra novas áreas serem concedidas, mas simplesmente isso não resolve a questão. Isso seria um saco sem fundo, com algum tempo os mesmos problemas de pobreza se repetiriam, sem falar no alto custo acarretado.

A título de exemplo, se seguirem os intentos da Funai, no Mato Grosso serão concedidos mais 5 milhões de hectares, totalizando o equivalente à um estado de São Paulo (20% do Mato Grosso já se constitui de reserva indígena) para 25 mil indígenas.Uma anormalidade em qualquer lugar do mundo.

Já que os caciques andam reclamando de serem alvo de preconceito, seria bom que eles mesmos cobrassem os mesmos direitos e deveres, principalmente deveres, de cidadão brasileiro para os indígenas. O paternalismo e a tutela estatal não são benéficos para os índios.

Deixo minha sugestão. Acho que dialogar com as lideranças indígenas seja mais producente que com a Funai, um órgão de burocratas que já vem mostrando ineficiência há tempos.

O governador André Puccinelli e a própria prefeitura de Dourados já proporcionaram melhorias significativas para os indígenas do estado, e penso que em conjunto com representantes indígenas locais e produtores rurais, saberão conduzir a questão com mais coerência e bom senso para se alcançar a almejada paz e tranqüilidade no campo e na cidade.

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Obs: Foto retirada do blog dos jovens indígenas de Dourados

http://www.ajindo.blogspot.com/