terça-feira, 13 de outubro de 2009

A dialética da mentira - I


A pior coisa que pode acontecer a duas motivações válidas - o indigenismo e a ecologia - é serem levadas ao exagero. O excesso de zelo é uma forma de fanatismo. E os fanáticos costumam redobrar os esforços quando perdem de vista os objetivos”. (Roberto Campos)


Desde a queda do Muro de Berlim com a derrocada do comunismo, algumas pessoas sentiram-se vazias nos seus sentimentos utopistas. Alguns que procuravam uma causa, ou simplesmente os ressentidos, anticapitalistas de fé, arvoraram-se em outros nichos onde pudessem fazer suas críticas.

Uns migraram para o ecologismo radical, condenando qualquer avanço que remetesse ao capitalismo. São os ecologistas melancias, verdes por fora e vermelhos por dentro. Já outros elegeram o indigenismo como novo fator de luta de classes (aqui seria de etnias). Estes também tiveram algum outro embasamento teórico, considero o relativismo cultural e a aversão ao que chamam de etnocentrismo como principais.

Contudo, estas pessoas usam um mesmo ardil que já datava de bem antes, desde quando o papai Marx manipulou os dados dos Blue Books ingleses, escrevendo sua empulhação denominada “O Capital”. Este ardil é baseado na mentira, na manipulação de fatos (alardeando alguns e omitindo outros), no tendencialismo e na insistência em se repetir slogans que sejam aceitos como verdade ao passar do tempo, criando-se mitos.

Como já dizia Lênin: “Os fins justificam os meios”. Então se for pra contar umas mentiras que ajudem no “Um outro mundo é possível.”, está tudo bem.

Juntamente com as falácias, a desqualificação dos debatedores que se contrapõem a eles também é algo sistemático. Fundamentam isto em algo chamado de polilogismo, no qual se diz que as opiniões emitidas são baseadas na classe social ou grupo de interesse do debatedor em questão.

Foi o que fizeram os marxistas quando contrapostos em suas teorias. Em 1922, Ludwig von Mises já havia exposto a impossibilidade do cálculo de preços no socialismo de cunho marxista, por ele tentar ignorar a lei da oferta e da procura. A conseqüência mais imediata seria a escassez de produtos. O sistema socialista só se manteria se usasse a força e a coação. Foi exatamente o que ocorreu nos países do bloco soviético.

Contudo, os marxistas nunca partiram para um debate sincero com Mises, nunca refutaram seus argumentos, apenas disseram que ele estava a serviço da burguesia.

Dessa forma, eu que mesmo não tendo terras nas áreas a serem estudadas e nem prestando serviço naquela região, para eles emito opiniões por ser “membro da elite dominante” ou um “serviçal dos interesses dos proprietários rurais”. Ou seja, o foco não se dá nos argumentos, mas sim nas pessoas que os declaram.

O polilogismo além de ser burro, antidemocrático e de notória má-fé ao não se dar ênfase nos argumentos em si com o uso da razão como juíza dos fatos, mostrou-se altamente contraditório em se tratando dos próprios teóricos socialistas. Estes muito pouco tinham a ver com as camadas populares da sociedade, mas um caso modelar foi o de Engels. O alemão era um rico industrial, mas escreveu em prol do comunismo, sendo um dos autores do “Manifesto Comunista” e também mantenedor de Marx por longos anos.

Engels era um capitalista na prática e um comunista nas opiniões. O polilogismo é uma falácia.

Antes de enunciar as falácias, vou só reforçar algo. Para quem conhece como pensam as pessoas a que me refiro, é simples de se perceber a correlação de “atores”, mas talvez para a maioria das pessoas estas informações que estou dando são devaneios. Então vou ser bem didático:

Nesse teatrinho todo, os produtores rurais representam a burguesia rural, o agronegócio é a versão do capitalismo no campo, as fazendas são os meios de produção privados, os índios são os oprimidos ou alijados do sistema.

O sistema capitalista com produção especializada (carne, milho, soja, leite) é simplesmente chamado de monocultura, como se isso fosse algo intrinsecamente ruim, e deveria ser substituído por outros modos de produção, provavelmente mais coletivistas e sem o advento da propriedade privada. O antigo modo de vida indígena, na mente destas pessoas, seria algo isento dos males do capitalismo, e próximo de um idílico sistema comunal natural.

Também há a simples aversão aos produtores rurais, ou seja, o objetivo na verdade não é melhorar de fato a vida dos índios, mas sim infligir perdas aos produtores. Os índios são o meio, ou a desculpa para se fazer isso.

Além do marxismo, no caso do indigenismo houve ainda a contribuição de alguns elementos da Antropologia, os já citados relativismo cultural e o conceito de etnocentrismo. Ambos não são completamente equivocados, mas podem levar ao erro se radicalizados. Ainda houve o coquetel ideológico da Teologia da Libertação que orientou tanto o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) quanto a Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Basicamente é importante entender que os que são visceralmente contra os produtores rurais, são governados por um conjunto de idéias errôneas no âmago, mas que conseguem passar uma lógica até certo ponto plausível (embora enganosa) e que contém forte apelo emocional.

Agora sim as falácias: Para referendar seu ponto de vista e conquistar a opinião pública para atingir seus objetivos, repetem-se afirmações que a princípio não parecem ser tão falsas, mas como alguém já disse: “meias-verdades são também meias-mentiras”. Há três afirmações exclamadas ad nauseum pelos militantes indigenistas e que espero colocar em debate.

São elas: O confinamento indígena, o genocídio indígena e a dívida histórica para com os indígenas.

Comento-os em próximo artigo.