segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

A Revolução Liberal



Por ocasião da última eleição presidencial, já há pouco mais de um ano, achava muito interessante a proposta do candidato Cristovam Buarque que propunha uma revolução doce, uma revolução pela Educação. Como exemplos de países que passaram por essa revolução o então candidato citava Irlanda, Espanha, Nova Zelândia e países conhecidos como os Tigres Asiáticos (Coréia do Sul, Cingapura e Taiwan).

O interessante é que Cristovam Buarque se considera de uma corrente política chamada de “esquerda”, pois foi do PT e está hoje filiado ao PDT. Nos seus programas eleitorais volta e meia conclamava os jovens idealistas da “esquerda”. Lembro-me que na época em um encontro chegaram a lhe questionar como seria a implantação do socialismo no Brasil, ao passo que rapidamente ele tergiversou. Óbvio, pois os países que Cristovam mirava não tinham nada de socialistas, ou de “esquerda” que seja.

Retornei esta lembrança e a vontade de escrever este texto, pois acabei de ler o recém lançado livro “A Volta do Idiota” de Álvaro Vargas Llosa e outros escritores, que trata sobre o atual cenário geopolítico da América Latina, entre outras coisas.

Um dos capítulos se refere exatamente sobre a tal revolução doce nos países que Cristovam citava há um ano, e também em alguns do Leste Europeu, como República Tcheca e Polônia. Contudo, ela não foi somente uma revolução na educação (o que seria até certo ponto inócuo), mas sim um conjunto de medidas que geraram sensíveis e positivas modificações em tais países.

Resumidamente estas medidas estão calcadas na racionalização dos gastos públicos, diminuição de impostos, menos burocracia para abrir e fechar empresas, flexibilização trabalhista, atração de investimentos externos, maior garantia jurídica com leis mais objetivas, ambiente amigável para os negócios e, finalmente, grandes apostas nos campos da educação, da ciência e da tecnologia, boa parte em parceria com a iniciativa privada.

Para citar somente o caso da outrora pobre Irlanda (que já é chamada de Tigre Celta), após as medidas descritas acima o país vem crescendo mais de 7% ao ano desde 1993, a renda per capita está chegando perto dos US$ 40 mil, uma das maiores do mundo. O desemprego é baixo, perto dos 5%. Os indicadores sociais estão melhorando a cada ano. O gasto com educação não é muito diferente do brasileiro, cerca de 4,3% do PIB. O que faz a diferença mesmo é o grau de liberdade econômica, que não é nada mais do que o bom ambiente para as atividades econômicas e produtivas.

Houve um período de ajustes, com fechamento de empresas e setores ineficientes, mas no médio prazo os resultados mostraram-se altamente satisfatórios. Foram medidas baseadas no bom senso e de cunho liberal que ocasionaram isto.

Países que eram há poucas décadas exportadores de mão-de-obra, com pessoas buscando sobrevivência e oportunidades em outras nações, tornaram-se importadores de mão-de-obra. Para o horror dos marxistas (até há pouco achava que estavam extintos) o capitalismo não exclui, pelo contrário, ele inclui.

Na América Latina o modelo mais próximo aos países citados é o Chile, que mesmo governado pela socialista Michelle Bachelet, não alterou o modelo econômico herdado dos tempos de Pinochet, um ditador com inúmeros crimes no currículo, mas que optou por um modelo econômico sensato e próspero.

No Brasil o termo “neoliberal” virou xingamento nos meios acadêmicos. As poucas medidas de caráter liberal, como as privatizações, movidas pela necessidade em face de um Estado falido na década de 90, geram reclamações até hoje. Sorte dos ressentidos que a Internet banda larga (não estatal obviamente) está aí para dar vazão à raiva.

Alguém tem que avisar esta turma que um país que tem quase 40% do PIB abocanhado pelo Estado, que se encontra no 70º lugar entre 157 países ranqueados no índice de liberdade econômica da Heritage Foundation, leis trabalhistas do tempo de Getúlio Vargas, papeladas e burocracias que empurram empresas e trabalhadores para a informalidade com o agravante de se ter uma previdência por isso mesmo deficitária, entre outras inúmeras coisas, está longe de ser neoliberal.

Enquanto isso vamos observando a onda crescente de populismo em alguns países da América Latina, com alguns respingos por aqui também. Cargos de confiança por compadrio ou nepotismo seguem em alta no meio político, a despeito de quem vai pagar a conta do aumento de gasto estatal pelo cabide de emprego. Nossa elite acadêmica vai bradando contra o “neoliberalismo usurpador” e topamos com candidatos “de esquerda” propondo uma correta revolução doce, mas omitindo que ela nada mais é do que uma revolução liberal.
Publicado dia 08/01/08 pelo Correio do Estado:
E no blog "Revendo a História", do meu amigo Itamar: