sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Rapa nui


Rapa Nui é um filme que trata sobre a ilha de Páscoa, dramatizando a hipótese mais aceita entre estudiosos do que pode ter ocorrido naquela ilha. Para quem não sabe, na ilha de Páscoa encontraram-se sinais de uma civilização que entrou em declínio.

Quando o holandês Jacob Roggerseen chegou à ilha em 1722, encontrou enormes faces esculpidas em pedras em cima de montanhas, mas sem que nenhum dos poucos habitantes da ilha definisse com acurácia quem fez e por qual razão tais obras lá estavam.

O filme traz uma história de disputa de poder entre os clãs das tribos, através de competições, e que de certa forma cegaram seus habitantes para o iminente colapso dos recursos naturais da ilha, em especial da madeira usada para confecção de barcos e transporte dos moai, as enormes estátuas de pedra. Os moradores de Páscoa, também chamados de Rapa Nui, sucumbiram perante a fome e a escassez de recursos.

Dito isto, novamente trago à baila nossa questão indígena, com as pretensas demarcações da FUNAI.

Há uma assertiva, exclamada por alguns, que o índio possuía um modo de vida que estava em equilíbrio com a natureza, que usufruía dela sem destruí-la. Ledo engano, pura romantização para com nossos bons ex-silvícolas.

Como muito corretamente notou o Sr. José Ito de Souza em recente artigo denominado “Aldeamentos extintos”, o extrativismo que é a base do antigo modo de vida indígena, não é auto-sustentável. A fome mais cedo ou mais tarde aparecia, após não encontrarem mais caça à disposição, e isso gerava o deslocamento da tribo. Por isso eram nômades.

Notamos então que o modo de vida clássico dos índios, não tinha nada de ecológico (a não ser que se considere o esgotamento dos recursos à sua volta como ecológico) ou de perfeito. A fome era sempre um espectro a rondá-los. A agricultura de subsistência que praticavam não era suficiente para suprir toda tribo.

Não havia imprensa naquela época para noticiar qual a taxa de mortalidade dos indígenas, mas com certeza não devia ser baixa.

No tocante à ilha de Páscoa percebemos que não houve interferência do homem branco. Não houveram produtores rurais, anseios capitalistas, busca por sustento e prosperidade através da produção rural, nada.

Os habitantes da ilha de Páscoa, muito provavelmente, pereceram pelo seu próprio modo de vida e que muito devia se assemelhar com o sistema dos antigos indígenas brasileiros.

Já nossos produtores, aliás, do mundo inteiro, importam nutrientes via fertilizantes a cada safra, para o solo não exaurir. Criam bovinos, suínos e aves com esmero e não caçam seus animais na natureza. Florestas foram derrubadas, mas florestas estão sendo plantadas. A famigerada monocultura é responsável pela produção em escala, barateando e tornando mais acessível a alimentação e o produto rural.

Enfim, já há muito tempo que a produção agropecuária que usamos é responsável por alimentar um mundo de população exponencialmente crescente.

Alguém pode dizer que ao delimitarem os índios em reservas, ocorreu que os fecharam em ilhas, tal qual a do filme Rapa Nui, e que o branco foi o causador da aceleração da derrocada indígena.

Eu considero o contrário. Se nossa sociedade representa algo para os índios não deve ser o mar do Pacífico, no qual se encontra a ilha de Páscoa, mas deve representar sim um mar de oportunidades.

Mais cedo ou mais tarde, durante seu desenvolvimento, os índios teriam um colapso populacional ou algo do gênero, mesmo sem a chegada do homem branco. Em minha opinião, mesmo com muitos percalços, o contato do índio com o branco representou uma economia de algumas centenas de anos de evolução tecnológica para o primeiro e com todos os inegáveis benefícios que isto acarreta.

Quanto aos habitantes remanescentes da ilha de Páscoa, alguns visitantes foram gentis, outros deixaram as marcas dos piores defeitos da raça humana. Piratas peruanos capturaram os Rapa Nui para trabalho escravo nas ilhotas de guano. Tal fato nem de perto aconteceu no Mato Grosso do Sul. O contato entre brancos e índios que houve aqui, é um dos mais pacíficos registrados na história da humanidade.

Importante ressaltar que o tal trabalho escravo, indígena ou não, que volta e meia apregoam encontrar no estado, são simplesmente trabalhadores indígenas sem carteira assinada ou contrato temporário oficializado. Mas se for assim, quase metade da mão-de-obra do país é escrava.

Falei que devíamos ser um mar de oportunidades para os índios. Não somos. Para isso a política indigenista deve mudar, assim como os próprios índios devem assumir suas responsabilidades.

A simples ampliação de terras é um círculo vicioso e um saco sem fundo. Com o tempo os mesmos problemas de fome e pobreza dos indígenas se repetiriam.

Ao invés de se tentar voltar para um passado que inexoravelmente não é mais possível, seria muito mais producente que empenhássemos esforços numa integração harmoniosa do índio na sociedade brasileira.

A se seguir os intentos da FUNAI, sugiro que se antecipem e esculpam faces de pedra no sul do estado. Para índios e para brancos.