terça-feira, 28 de agosto de 2007

Antiamericanismo tupiniquim


Em recente artigo ao Correio do Estado, o meu querido ex-professor Hermano de Melo trata sobre a intervenção da CIA durante as décadas de 50 a 70 na América latina e cita em especial o caso do Brasil na intervenção militar de 64. Ora, o texto é deveras verdadeiro, só pecou no quesito de não levar em conta a situação geopolítica daquela época de guerra fria.

Se a CIA agiu no continente americano o que diremos da KGB no leste europeu? E esta sim foi muito mais tenaz e sangrenta do que a CIA. Já em meio a denúncias de assassinatos e de violação sistemática dos direitos humanos contra presos políticos, a KGB coordenou, em 1956, a invasão da Hungria pelos tanques do Pacto de Varsóvia. No mesmo ano, orientou a repressão de um movimento reformista na Polônia. A forte influência da KGB junto à cúpula do Pacto de Varsóvia foi decisiva para a iniciativa do governo da Alemanha Oriental de erguer o Muro de Berlim, em 1961. Os tanques que invadiram Praga na primavera de 68 também estavam sob comando da KGB.

E, embora pelos documentos revelados pela CIA, haveria um apoio logístico ao golpe ou contra-golpe de 64, não foi ela que o orquestrou. A responsabilidade imputada aos EUA pela intervenção militar de 64 é uma das maiores mentiras que são repetidas até hoje e que já foram desmascaradas pelo ex-espião tcheco Ladislav Bittman que contou como os comunistas produziam serviços de desinformação ou blefes em países da América Latina para aumentar a tensão e gerar um sentimento antiamericano. A confissão está no livro The KGB And Soviet Disinformation, publicado em 1985.

Nosso antiamericanismo tupiniquim é digno de sorrisos. Os EUA, o capitalismo, o FMI, as elites, tudo faz parte da massa de bodes expiatórios para justificar as mazelas do mundo.

Eu não morro de amores pelos norte-americanos, mas reconheço seus méritos dentro do mundo que hoje vivemos. Graças aos EUA, Hitler e seus nacionais-socialistas (vulgos nazistas) não obtiveram êxito. Tampouco Stálin pôde estender seus campos de concentração, os Gulags, e seu totalitarismo mundo afora.


Até mesmo quanto ao Vietnã, os críticos dos EUA ignoram que o regime de Ho Chi Min, depois da partida americana, matou em poucos anos cerca de três vezes mais que as duas décadas de guerra com os Estados Unidos. Não citam o Camboja, que não teve intervenção americana, e por isso mesmo viu o Khmer Vermelho, do comunista Pol-Pot, trucidar algo como 25% de sua população. Não pensam que a ajuda americana na Coréia foi o que possibilitou a sulista ser próspera e livre hoje, e não como sua irmã do norte.

Em 1962 já haviam no Brasil locais de treinamento de guerrilha, tudo financiado por organizações esquerdistas. João Goulart não tinha ido à China de Mao Tsé-Tung a esmo, sua simpatia pelo socialismo era declarada. Ele só esqueceu de dizer se reeditaria no Brasil as medidas de Mao que ocasionaram, (pasmem, não é brincadeira!), 60 milhões de mortes naquele país.

Havia sim o risco de nos tornarmos a nova Cuba da América Latina. E meu caro professor como militante dos direitos humanos, com certeza não aprova o regime de Fidel Castro com suas milhares de execuções sumárias no paredón ou as prisões cubanas apelidadas de “merdácias” pelos detentos serem submetidos a banhos de dejetos.

O contra-golpe de 64 merece ser melhor debatido. Há um maniqueísmo que denigre a verdade e o contexto dos fatos. Fica então a pergunta: Deveríamos esperar que o embaixador norte-americano da década de 60 no Brasil se desculpasse pela intercessão dos EUA ou deveríamos agradecê-lo?



*artigo publicado no jornal Correio do Estado, de Campo Grande - MS
http://www.correiodoestado.com.br/exibir.asp?chave=157538,1,1,03-08-2007

em resposta a este texto:
http://www.correiodoestado.com.br/exibir.asp?chave=157079,1,1,26-07-2007

**artigo que retirei um sample (ou seja, copiei um trecho; internet é free galera e eu não sou nenhum profissional do ramo)
http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2007/01/antiamericanismo-patolgico.html