Ainda há casos de suicídio na aldeia Jaguapirú em Dourados. E, em geral, são índios jovens que tiram a própria vida através de enforcamento após terem se alcoolizado. Um fato intrigante é que dizem não saber por que os índios fazem isso. Nunca conversei com antropólogos ou psicólogos que interagem com os indígenas de lá, mas acho que os jornalistas que veiculam as notícias também não encontram respostas quando questionam tais profissionais.
Eu que não sou especialista no assunto, mas que cresci em Dourados, e quando criança entreguei muito pão velho para os índios pedintes e ficava com medo de eles roubarem meus gatos de estimação (sim, falava-se que eles faziam isso), vou tentar responder a questão.
Algumas vezes o óbvio passa despercebido, acho que esse é um caso. Em minha opinião, os suicídios são causados por uma depressão ante a falta de perspectiva de um futuro melhor, assim como pela vergonha do índio não ter uma colocação de respeito e dignidade nem na sociedade do branco, que subjugou sua cultura (o que para ele é claro), e nem na do próprio índio.
O modo de vida indígena com seu sistema de produção clássico se tornou obsoleto, já não atendendo mais a exigência de sobrevivência da tribo (se é que ainda pode ser assim chamada), inclusive nem mesmo os atuais indígenas elegeriam ou saberiam se utilizar da caça e pesca para sobrevivência. Em geral os índios arrendam suas terras, alguns procuram empregos de baixa qualificação e remuneração, grande parte fica na ociosidade e quase todos ficam dependentes da caridade alimentar do governo. Tampouco a sociedade branca acolhe de maneira eficiente o indígena.
O jovem indígena então vê seu futuro diante de dois cenários. Ou na tribo em condições precárias ou na sociedade branca que não traz oportunidades de ingresso e crescimento humano ou social. Não é difícil notar como se cria um ambiente de angústia e tristeza para esse indivíduo. A ingestão de álcool torna-se o catalisador de um ato severo de desumanidade própria.
É interessante notar também como alguns aspectos unem culturas distintas, mas que possuem uma ligação genética forte. É sabido que os índios das Américas são provenientes da região Oriental do planeta, que povoaram o continente pelo estreito de Bering. Pois bem, lembremos, portanto dos japoneses com seus famosos Haraquiris, ou seja, suicídio ante algo que para eles fosse desonroso ou vergonhoso. Guardadas as devidas proporções é o que acontece com os índios de Dourados. Penso que sentirem-se úteis e importantes seria o melhor remédio contra a baixo-estima dos suicidas indígenas
O que me preocupa é que parece que a situação não é favorável para se ver revertida por ações dos especialistas e técnicos do assunto, mas talvez apenas por força da realidade ou das circunstâncias. A legislação é ao mesmo tempo excludente, na medida em que não torna o índio um cidadão brasileiro, e altamente paternalista, de uma maneira péssima, permitindo que maus elementos da etnia se achem inimputáveis pela lei, cometendo os mais variáveis delitos.
Vi recentemente uma matéria sobre indígenas dos EUA que vieram ao Brasil num encontro de povos ameríndios. Constatação da imprensa: os índios de lá estavam mais integrados à sociedade americana (uma índia mostrada era chef de cozinha, outro era professor), mas preservando sua cultura própria. Pois bem, era isso que eu pensava há muito tempo como uma opção viável para nossos índios, em especial os do sul do estado.
Os índios deixariam de ser brasileiros à margem das leis, mas passariam a ter os mesmos direitos e deveres que todos os cidadãos. Que se integrem na sociedade e que mantenham sua cultura, língua e costumes, se assim desejarem; como a exemplo de árabes, japoneses, alemães, italianos e toda gama de pessoas das diversas culturas do mundo que aqui vieram viver e mantêm seus hábitos, culinária, festas típicas, etc.
Para alguns que possam torcer a cara ante tal perspectiva lembro que a própria aldeia já não se parece mais uma aldeia. As casas são isoladas, longe mesmo, uma das outras. Penso que um modelo de agro-vila, se ainda é possível, seria o ideal para quem quisesse se manter na tribo Jaguapirú.
Acho que o relativismo cultural dos antropólogos, assim como ainda um pouco de senso comum do mito do Bom Selvagem de Rousseau e por fim nosso velho preconceito, infelizmente às vezes fundamentado atrapalhe ainda mais a integração (e não a aculturação) do índio na sociedade branca.
Mais terra para os índios também não solucionaria seus problemas. Isso seria um saco sem fundo e com algum tempo os mesmos problemas de pobreza se repetiriam, sem falar no custo proibitivo que isso acarretaria. A legitimidade das propriedades privadas dos produtores que margeiam a aldeia Jaguapirú deve ser respeitada. Também a idéia que há pouco se veiculou de realocá-los em áreas devolutas da Amazônia é estapafúrdia.
A prefeitura de Dourados e algumas universidades estão dando apoio aos índios. Além do aspecto assistencial, que nesse momento é primordial, há que se tomar medidas, que os próprios índios devem pautar, para que eles possam se emancipar e terem condições de viverem dignamente.
Quanto aos suicídios, para ser mais óbvio ainda, acho que deveriam fazer algo que talvez não tenham pensado: perguntar aos jovens indígenas o que os aflige e entristece a ponto de tirarem suas próprias vidas e o que eles gostariam de vislumbrar como um futuro melhor.
Eu que não sou especialista no assunto, mas que cresci em Dourados, e quando criança entreguei muito pão velho para os índios pedintes e ficava com medo de eles roubarem meus gatos de estimação (sim, falava-se que eles faziam isso), vou tentar responder a questão.
Algumas vezes o óbvio passa despercebido, acho que esse é um caso. Em minha opinião, os suicídios são causados por uma depressão ante a falta de perspectiva de um futuro melhor, assim como pela vergonha do índio não ter uma colocação de respeito e dignidade nem na sociedade do branco, que subjugou sua cultura (o que para ele é claro), e nem na do próprio índio.
O modo de vida indígena com seu sistema de produção clássico se tornou obsoleto, já não atendendo mais a exigência de sobrevivência da tribo (se é que ainda pode ser assim chamada), inclusive nem mesmo os atuais indígenas elegeriam ou saberiam se utilizar da caça e pesca para sobrevivência. Em geral os índios arrendam suas terras, alguns procuram empregos de baixa qualificação e remuneração, grande parte fica na ociosidade e quase todos ficam dependentes da caridade alimentar do governo. Tampouco a sociedade branca acolhe de maneira eficiente o indígena.
O jovem indígena então vê seu futuro diante de dois cenários. Ou na tribo em condições precárias ou na sociedade branca que não traz oportunidades de ingresso e crescimento humano ou social. Não é difícil notar como se cria um ambiente de angústia e tristeza para esse indivíduo. A ingestão de álcool torna-se o catalisador de um ato severo de desumanidade própria.
É interessante notar também como alguns aspectos unem culturas distintas, mas que possuem uma ligação genética forte. É sabido que os índios das Américas são provenientes da região Oriental do planeta, que povoaram o continente pelo estreito de Bering. Pois bem, lembremos, portanto dos japoneses com seus famosos Haraquiris, ou seja, suicídio ante algo que para eles fosse desonroso ou vergonhoso. Guardadas as devidas proporções é o que acontece com os índios de Dourados. Penso que sentirem-se úteis e importantes seria o melhor remédio contra a baixo-estima dos suicidas indígenas
O que me preocupa é que parece que a situação não é favorável para se ver revertida por ações dos especialistas e técnicos do assunto, mas talvez apenas por força da realidade ou das circunstâncias. A legislação é ao mesmo tempo excludente, na medida em que não torna o índio um cidadão brasileiro, e altamente paternalista, de uma maneira péssima, permitindo que maus elementos da etnia se achem inimputáveis pela lei, cometendo os mais variáveis delitos.
Vi recentemente uma matéria sobre indígenas dos EUA que vieram ao Brasil num encontro de povos ameríndios. Constatação da imprensa: os índios de lá estavam mais integrados à sociedade americana (uma índia mostrada era chef de cozinha, outro era professor), mas preservando sua cultura própria. Pois bem, era isso que eu pensava há muito tempo como uma opção viável para nossos índios, em especial os do sul do estado.
Os índios deixariam de ser brasileiros à margem das leis, mas passariam a ter os mesmos direitos e deveres que todos os cidadãos. Que se integrem na sociedade e que mantenham sua cultura, língua e costumes, se assim desejarem; como a exemplo de árabes, japoneses, alemães, italianos e toda gama de pessoas das diversas culturas do mundo que aqui vieram viver e mantêm seus hábitos, culinária, festas típicas, etc.
Para alguns que possam torcer a cara ante tal perspectiva lembro que a própria aldeia já não se parece mais uma aldeia. As casas são isoladas, longe mesmo, uma das outras. Penso que um modelo de agro-vila, se ainda é possível, seria o ideal para quem quisesse se manter na tribo Jaguapirú.
Acho que o relativismo cultural dos antropólogos, assim como ainda um pouco de senso comum do mito do Bom Selvagem de Rousseau e por fim nosso velho preconceito, infelizmente às vezes fundamentado atrapalhe ainda mais a integração (e não a aculturação) do índio na sociedade branca.
Mais terra para os índios também não solucionaria seus problemas. Isso seria um saco sem fundo e com algum tempo os mesmos problemas de pobreza se repetiriam, sem falar no custo proibitivo que isso acarretaria. A legitimidade das propriedades privadas dos produtores que margeiam a aldeia Jaguapirú deve ser respeitada. Também a idéia que há pouco se veiculou de realocá-los em áreas devolutas da Amazônia é estapafúrdia.
A prefeitura de Dourados e algumas universidades estão dando apoio aos índios. Além do aspecto assistencial, que nesse momento é primordial, há que se tomar medidas, que os próprios índios devem pautar, para que eles possam se emancipar e terem condições de viverem dignamente.
Quanto aos suicídios, para ser mais óbvio ainda, acho que deveriam fazer algo que talvez não tenham pensado: perguntar aos jovens indígenas o que os aflige e entristece a ponto de tirarem suas próprias vidas e o que eles gostariam de vislumbrar como um futuro melhor.