segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O presidente fanfarrão


Eu gosto do Lula, sempre que ele abre a boca rende boas risadas. Tudo bem que na campanha eleitoral, muitas vezes, ele se exaltou e parecia ter voltado aos tempos de sindicalista radical; mas no cômputo geral continuou sendo o Lula de sempre. E eu gosto dele porque ele sempre me surpreende, mesmo eu achando que ele não vai mais conseguir isso.

Num discurso para os petroleiros do nordeste, Lula teceu loas ao desenvolvimento da Petrobras e da sociedade em geral, disse que agora os trabalhadores estavam tendo condições de comprar suas motos e até seus “carrinhos”, que os burros (os animais mesmo) estavam sendo deixados de lado na região, e, nas palavras dele: “Eu acho que os burrinhos vão até fazer greve!”.

É tanta (des)informação em tão poucas palavras, que não é fácil sintetizar, mas vou tentar.

Primeiro que os automóveis e o combustível no Brasil são caríssimos, praticamente o dobro de outros países. Se hoje os mais pobres estão começando a ter acesso aos veículos, não é por causa do governo, mas a despeito dele. Diminuir significativamente impostos para facilitar o acesso a estes bens de consumo é algo pouco provável de acontecer. E se tudo que o PT apregoou, quando era oposição, tivesse sido feito, talvez ainda imperasse no Brasil algum similar do Lada ou do Trabant da ex-URSS.

Outra coisa ilógica, embora galhofeira, foi de dizer que os burrinhos entrariam em greve pelo fato de não estarem mais sendo requeridos para o trabalho. Sempre pensei que grevistas reivindicassem menos trabalho, ou mais salário. Os burrinhos de Lula são de fato “burrinhos” mesmo. Ele, como exímio líder grevista que foi, talvez olhasse para aquela massa que liderava nos anos 70 e 80, como seus burrinhos também. “Os patrões estão nos trocando por máquinas, nossos empregos não são mais demandados. Vamos fazer greve!”. Deve ser isso.

A grande sorte de Lula foi de ter assumido o governo depois de FHC. Os petistas nem em sonho conseguiriam acabar com a inflação, afinal os economistas petistas – e todos os petistas enfim – eram, e são, analfabetos econômicos. Reformas estruturais de FHC, manutenção do ex-tucano Henrique Meirelles no Banco Central, China abrindo para o capitalismo e impulsionando a economia mundial, pronto, Lula pode dizer qualquer coisa, se arrogar como inventor do Brasil, que tudo está bem. Ele realmente tem talento em se apropriar de algo que não lhe é devido.

Um elogio aos petistas: a manutenção da política econômica. Câmbio flutuante, metas de inflação, autonomia do Banco Central. Pragmática sim, liberal, aí não, jamais!

Lula passou 40% do tempo na presidência viajando. Nos últimos meses ele foi muito mais cabo eleitoral do que outra coisa. Um grande mérito dele, sem dúvida, foi demonstrar que qualquer um pode ser presidente do Brasil, talvez ele tenha sido revolucionário ao demonstrar que o Brasil não precisa de presidente, é só deixar as coisas fluírem sem atrapalhar demais a sociedade. Pensando bem, estou subestimando Lula. Agradar gregos e troianos não é fácil.

Para mim o presidente Lula é mais do que um mito, é um personagem. Só espero não sentir falta das suas tiradas. Aliás, como consolo, talvez agora ao deixar a presidência ele devesse pleitear uma vaga no programa Casseta e Planeta, ocupando a vaga do saudoso Bussunda e fazendo o papel de Lula mesmo. Todos se divertiriam à beça.


ps: Fiquei sabendo depois que o Casseta e Planeta vão dar um tempo ano que vem. De repente Lulla pode ficar no lugar do Tiririca no programa do Tom Cavalcante...