quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Não roube!O governo detesta concorrência.


Quem ostenta na mesa do seu escritório a espirituosa frase que dá titulo a este artigo é o médico norte-americano Ron Paul, senador republicano pelo estado do Texas. Ron Paul já tem décadas de vida pública, de forma que possui credibilidade em tornar visível sua constatação. Veio a minha memória esta frase, depois de eu ler “A máfia de paletó” de Eleandro Passaia, livro que relata os esquemas de corrupção em Dourados, e que, segundo o próprio autor, se repete nos diversos municípios do Brasil e em diversas esferas do poder público.

Pelo que Passaia descreve, os representantes dos poderes Executivo e Legislativo usam com voracidade um artifício de incentivo comum na iniciativa privada quando se quer aumentar as vendas: o pagamento de porcentagens do montante envolvido, alcunhado de "verba de retorno".

O problema é que, na iniciativa privada, o dinheiro é particular e conscientemente concedido pelo proprietário – seja um dono de loja, de fábrica ou qualquer comércio – já no meio público, o dinheiro advém de impostos retirados de toda a sociedade e que não sabe, e nem endossa dos meios usados por seus diletos “representantes”.

Não vou me ater com detalhes nos vários esquemas em si, afinal quem quiser baixar o livro para leitura, ele está disponível na Internet, e a polícia federal está investigando os envolvidos. Gostaria de me ater mais em algumas premissas morais de parte do eleitorado, assim como nas soluções que Passaia fornece para melhorar o panorama político brasileiro.

Passaia diz que : “...Parte da sociedade alimenta a corrupção. Ao exigir benefícios ilegais o cidadão corrompe o agente público. Quando vende seu voto por dinheiro ou qualquer troca de favor, o eleitor coloca no poder alguém predestinado a roubar. Assistencialismo de qualquer natureza tem custos elevados, e quem o faz fatalmente vai arrumar uma forma desonesta para equacionar o problema mais tarde”.

Sim, é verdade, como o próprio autor aponta, cada povo tem o governo que merece, e se nossos representantes, com honrosas exceções, são corruptos, isso não passa de um retrato da baixeza moral de nossa sociedade. Eu conheço pessoas – familiares até – que exerceram, e exercem, cargos públicos, e que não foram, e não são, corruptos. Mas estes são como agulhas em palheiro. E, principalmente, a “pedição” desenfreada e, muitas vezes, sem cabimento, de parte dos eleitores, desmotiva os políticos honestos.

Passaia ainda diz sobre os políticos “...eles também foram vítimas de nossa omissão”, e em seguida sugere que todos devemos fiscalizar os políticos. Aí está, na minha opinião, o maior erro de Passaia. Ninguém deveria se preocupar com os políticos ou com a política. Ela, para mim, deveria ser a coisa mais desimportante do mundo. Eu não quero, e não espero que outros queiram, abdicar do tempo que estaria trabalhando e fazendo dinheiro, convivendo com os amigos e entes queridos, namorando, tendo lazer, fazendo esporte, amor ou qualquer outra coisa muito mais importante do que fiscalizar burocratas que apenas tentam justificar seus salários no fim do mês.

Vou corrigir você, Passaia. A luta contra a corrupção é a luta mais vã da face da Terra. É uma coisa mais inútil do que enxugar gelo num dia de sol quente. Já diz o ditado “A oportunidade faz o ladrão”. O que deve ser feito, então, é evitar esta oportunidade. A solução para a corrupção é uma só: retirar ao máximo o dinheiro das mãos do governo.

Em todo lugar do mundo, a prosperidade só se fez presente onde o poder estatal foi, pelo menos em princípio, diminuído ao essencial, e é isso que tem que ser feito. O que vemos hoje no Brasil é uma aberração que faria inveja a qualquer rei da Idade Média, tamanha a centralização das riquezas produzidas pela sociedade e que vão parar nas mãos de poucos.

Para ser pragmático e para minimizar a corrupção existente, digo que diminuir impostos, lançar mão do federalismo, e que emendas parlamentares fossem proibidas – tal qual rezava a constituição de 1967, a que propiciou a gênese do milagre econômico brasileiro que foi mais tarde estragado pela onda estatista da linha dura militar –, o país teria um salto de qualidade de vida.

Contudo, não esperem que tais mudanças partam espontaneamente dos políticos, mas sim apenas dos eleitores, e se estes não perceberem a cilada do sistema em que vivemos, estamos condenados a perenizá-lo e sermos escravos consentidos dele.


ps: artigo publicado pelo jornal Correio do Estado em 27/12/10. Parabéns ao Correio, cheguei a pensar que o artigo não seria publicado.