quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Fábrica de asneiras


O atual governo que manteve a linha econômica do antigo, com o ex-tucano Henrique Meirelles no comando do Banco Central, em nome do controle inflacionário obtido no governo anterior; que se utilizou e alargou a rede de proteção social também do antigo governo e que teve a felicidade de pegar os bons ventos de prosperidade econômica mundial, em grande parte gerada pela abertura de China e Índia para o capitalismo mundial, nos brinda com atos de obsoletismo ideológico.

Digo isso por três fatos recentes. Em ordem: o apoio ao lançamento de um livro trazendo a memória das vítimas da ditadura militar brasileira, com clara condenação aos militares; um plebiscito inferindo sobre a reestatização da mineradora Vale do Rio Doce e uma auto-definição no 3 encontro do PT.

A despeito das mortes que os antigos guerrilheiros causaram (123 no total, entre civis e militares), como a do Tenente Alberto Mendes Júnior, morto a coronhadas a mando de Carlos Lamarca, as indenizações concedidas aos perseguidos políticos já custaram R$ 3,5 bilhões aos cofres públicos, sendo que a cada mês, as pensões somam outros R$ 28 milhões O próprio presidente Lula ganha 4 mil reais por mês por ter dormido uma noite no DOPS. Já foram concedidas 17 mil reparações, 13 mil foram rejeitadas, mas ainda há outras 30 mil na fila. Isso que somadas todas as vítimas, incluindo guerrilheiros que foram mortos pelos próprios companheiros (os famigerados justiçamentos), chega-se a 424 pessoas.


Não é o fato de se justificar excessos por parte dos militares, mas é interessante notar que boa parte dessa turma revanchista do atual governo é admiradora de Fidel Castro, mesmo esse sendo responsável direto pela morte de 17 mil cubanos, boa parte fuzilada no paredón, e a democracia cubana ser tão verdadeira quanto uma nota de três reais. No Brasil a História tem sido escrita somente pela versão dos perdedores. Que se abram os arquivos da ditadura e que caiam as máscaras de certas pessoas que hoje posam de heróis em pretensa luta pela democracia.

Quanto a Companhia Vale do Rio Doce ser reestatizada é mais implausível ainda. Ela foi vendida em leilão aberto, se houve irregularidades que se apurem devidamente, mas novamente os dados derrubam as falácias. O lucro da Vale estatal oscilava em torno dos R$ 500 milhões por ano, hoje, esse lucro passa dos R$ 10 bilhões. E isso gera a discrepância entre o valor pelo qual ela foi vendida e o valor atual, motivo da reclamação dos que clamam contra a privatização da empresa. Só de imposto de renda, a Vale pagou mais de R$ 2 bilhões em 2005! Gestão competente sem loteamento político ou aparelhamento por “companheiros” resulta nisso.

A Vale privatizada traz mais lucro para o país e menos risco de se haver manipulações espúrias como as que levaram a CPI dos Correios, tampouco desvios de verbas para caixas 2, mensalões, cuecas endinheiradas, etc. E será que alguém sente saudades da Telebrás em que tínhamos que ficar meses, quiçá anos, esperando pela instalação de uma linha telefônica? Porque não pedem para reestatizar o setor de telefonia?

Termino com uma afirmação da última reunião do PT em que eles refizeram seu credo socialista e declararam-se anticapitalistas. Ora, conversa pra boi dormir. É o velho canto da sereia para reatrair a antiga militância, os inocentes úteis, que debandaram com os sucessivos escândalos que cercaram o PT nos últimos anos.

Mas vá lá, vamos dizer que a ideologia deles é pra valer. O que seria o socialismo do PT? Não é o socialismo comuno-marxista que brindou o mundo com mais de 100 milhões de mortes. Também não é a social-democracia escandinava em muito baseada no antigo Welfare State norte-americano. Que raios de socialismo petista é esse então? Não seria o velho populismo conjugado com um aparelhamento do Estado pela companheirada e admitindo práticas de mercado que pudesse financiar tudo isso, lógico que sem deixar o clientelismo de lado?

E aí também reside outro absurdo da assertiva do PT. Declararam-se anticapitalistas. Mas quem financia o Estado? Quem gera capital e trabalho? Por acaso o Japão, Coréia do Sul, Taiwan e outros países asiáticos outrora pobres geraram prosperidade pra sua população por outro meio que não o capitalismo? A China não tem obtido crescimento econômico e tirado da miséria parte do seu povo com o advento de práticas capitalistas de mercado?


Perguntas que encontram respostas na demagogia política e na ignorância e anacronismo ideológico de pessoas como Marco Aurélio “Top-top” Garcia, o dirigente do PT que escreveu o ato declaratório do partido. Seria cômico se não fosse trágico o fato que muitas dessas idéias são repetidas nas Universidades, em especial em cursos de Humanas, por pessoas que se dizem progressistas sem saber que seu progressismo nos remete ao século 19.

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