domingo, 23 de setembro de 2007

História mal contada







Um livro do MEC tem recebido atenção especial nos últimos dias. Trata-se da obra didática "Nova História Crítica – 8 série” de Mario Schmidt. Tal atenção deve-se ao fato do jornalista Ali Kamel ter apontado num artigo que o conteúdo do livro possui claras distorções dos fatos históricos e tendencialismo ideológico. O referido livro trata Mao Tse-tung, governante responsável por milhões de mortes na China, como um grande estadista. Diz que para nós do terceiro mundo, a vida na antiga URSS teria regalias que pareceriam um sonho, entre outros absurdos.

Embora a editora já tenha saído em defesa do seu autor, citando trechos do livro em que traz críticas aos desmandos comunistas, a desculpa não cola. Na verdade a crítica que o livro traz é a de dizer que a culpa do sistema não ter dado certo foi do autoritarismo dos burocratas e em palavras textuais: “Principalmente a intelligentsia (os profissionais com curso superior) tinham (sic) inveja da classe média dos países desenvolvidos.” As críticas do livro na verdade são desculpas que escondem as próprias falhas intrínsecas de um sistema condenado ao fracasso desde sua gênese.

Na obra há uma crítica contumaz ao capitalismo, como não podia deixar de ser, mas sem tecer nenhum comentário sobre algo de positivo em tal sistema. Já no socialismo almejado, tudo seria lindo e maravilhoso. Fica a mensagem implícita de que um outro mundo é possível, o velho bordão.

Sem querer amenizar os disparates de pura panfletagem ideológica no referido livro eu pergunto: E daí? Quem não sabe que a área de Humanas em especial nas Sociais está impregnada com ranço marxista e falácias maniqueístas dos mais diversos tipos? E isso há muito tempo. Lembro-me de um livro escolar de Geografia dos anos 80, acho que já no governo de José Sarney, em que era todo baseado no livro “As veias abertas da América Latina” de Eduardo Galeano. Tal livro foi considerado a bíblia do perfeito idiota latino-americano por Álvaro Vargas Llosa e outros escritores, haja vista a disseminação da obra no nosso continente e a quantidade de idéias equivocadas inseridas nela.

A própria Teoria da Dependência na qual se dizia que os países capitalistas mais avançados ("do centro") não deixavam os capitalistas menos avançados ("os periféricos") se desenvolverem ainda deve ser propalada nos meios acadêmicos e quiçá em livros escolares. Mesmo com os tigres asiáticos já tendo posto esta teoria no ridículo e o próprio pai dela, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, ter dito anos depois: “Esqueçam o que eu escrevi!”.

O marxismo embora com todo seu fracasso teórico e principalmente prático, tomou banca em faculdades mundiais, mas nas brasileiras parece que se tornou monopolista e superou o status de hegemonia de pensamento, tornando-se uma Homogenia. Para quem não sabe Marx escreveu sua obra “O Capital” manipulando os dados dos Blue Books ingleses, pegando só os dados que lhe convinham e de 30 anos passados!

E mesmo Gramsci, o comunista italiano considerado o pai do totalitarismo moderno, é um autor glorificado em nossas Universidades.

O economista Böhm-Bawerk refutou a teoria econômica marxista, em especial a estapafúrdia “mais-valia”; os liberais austríacos Mises e Hayek já haviam vaticinado o fim dos sistemas totalitários comunistas praticamente logo após a implantação dos mesmos. O capitalismo, longe de representar a pauperização da classe operária, se transformou na sua verdadeira redenção, basta ver a diferença entre o que recebe um operário japonês e um operário semi-escravizado chinês, que entrega metade do que ganha ao Estado.

Mas nada disso encontra eco nos nossos livros de História de ensino fundamental e médio e nem nos ambientes acadêmicos dos cursos de Humanas. Não é a toa que em debates em comunidades da Internet, muitos acadêmicos e mesmo professores de tais áreas se vêem acuados e não raramente tem que se abster ou apelar para a desonestidade intelectual quando confrontados com simples leigos autodidatas ou profissionais liberais de setores produtivos, considerados por eles como parte da “burguesia” má e exploradora.

Mas e os alunos de tais professores, terão eles condições de discernimento e conhecimento para não se deixarem levar por idéias simplistas e errôneas?



* O sósia de Marx na foto não é o tal do professor Mario, mas bem que podia ser

**Ótimo texto do Janer Cristaldo:

***Meu artigo foi publicado pelo jornal Correio do Estado (estou com preguiça de conferir o dia, mas foi em Outubro), mas não está disponível on-line